Novos benefícios: empresas investem na primeira infância

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Divulgação/Unilever

Os investimentos em primeira infância envolvem sala de aleitamento, berçário e horários flexíveis

Ações para a primeira infância têm ganhado espaço dentro de grandes companhias, ao passo que avança a agenda ESG. Esse investimento vai além de assegurar o bem-estar dos funcionários e seus filhos: traz retornos econômicos no médio e longo prazo, segundo os estudos do vencedor do Nobel de Economia James Heckman. A análise feita por ele mostra que, mesmo sendo uma estratégia de baixo custo, ela dá um retorno sobre o investimento entre 7% e 10% ao ano. Isso inclui que as crianças passem mais tempo na escola e melhorem o desempenho profissional, reduzindo custos com reforço escolar, saúde e gastos do sistema de justiça penal. 

Em uma pesquisa feita pela United Way Brasil, organização social presente em 41 países e que investe na educação de crianças e jovens, a maioria dos gestores das companhias demonstrou entender a importância de investir na primeira infância – período que vai até os seis anos de uma criança, uma fase cujo desenvolvimento saudável depende diretamente de um cuidador dedicado. “E, se durante a maior parte do dia, essa pessoa está trabalhando, precisamos olhar como está esse ambiente de trabalho”, analisa a diretora executiva da United Way Brasil, Gabriella Bighetti. 

Essa é uma etapa crucial para o desenvolvimento da criança, já que o cérebro se desenvolve rapidamente, podendo fazer até mil novas conexões neuronais por segundo, de acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

Apesar do resultado da pesquisa, “as empresas ainda têm dificuldade em de fato implementar ações para a primeira infância”, diz Bighetti. Ao citar cinco passos que estão ao alcance de qualquer companhia e que envolvem comunicação aberta e ações viáveis, ela ressalta que é muito mais sobre intenção do que investimento financeiro. “Com investimento financeiro você faz mais e mais rápido, mas é possível fazer muito só com recursos que já estão investidos.”

No Guia da Primeira Infância, publicação da United Way Brasil para divulgar a causa, são listadas 600 políticas que podem ser implementadas pelas empresas. Conheça algumas práticas que já estão sendo feitas em grandes companhias do país. O Guia completo pode ser acessado aqui

Práticas de primeira infância nas empresas

Horário flexível

O horário flexível não altera o trabalho, mas “é importante para quem cuida de uma criança pequena que não tem relógio”, diz Bighetti. Esse é o tipo de ação que não envolve investimento financeiro, mas pode fazer (muita) diferença – não só para cuidadores, mas para trabalhadores em geral. Isso porque os colaboradores passam a ter autonomia para estabelecer seus próprios horários, conciliando as obrigações profissionais com a vida pessoal. Empresas como Nestlé, Natura e Bacardi Brasil já adotam jornadas de trabalho flexíveis. 

Berçário perto ou dentro do escritório 

Oferecer uma instituição própria ou terceirizada para atender à demanda educacional das crianças faz com que os pais mantenham um vínculo com seus filhos ao mesmo tempo em que se dedicam mais tranquilamente ao trabalho. As empresas podem tanto disponibilizar esses espaços dentro das suas dependências quanto ter convênios com creches e instituições ao redor do bairro, facilitando o deslocamento dos pais e reduzindo atrasos e faltas. Na Unilever e na Whirlpool, crianças de até dois anos e 18 meses, respectivamente, podem usar os berçários das empresas. Os filhos de funcionários da Pfizer têm acesso à creche da companhia até os sete anos, com custos de materiais de higiene bancados, assim como apoio psicológico e nutricional e reuniões mensais de acompanhamento. 

Sala de aleitamento materno

Divulgação/Boticário

Sala de aleitamento materno do Boticário

As funcionárias do Grupo O Boticário que amamentam dispõem de um kit próprio para a retirada e o armazenamento do leite, com geladeira, potes de vidro e bolsa térmica para o transporte do leite entre a empresa e as suas casas. Esse tipo de ação, além de beneficiar as crianças e incentivar o aleitamento materno, cria uma percepção de valorização das mães por parte da empresa e um ambiente seguro e adequado para que elas continuem trabalhando sem se preocupar. Na farmacêutica Boehringer-Ingelheim, as colaboradoras também têm sala de amamentação à disposição.

Troca de experiência entre pais

Criar um espaço físico ou virtual para que funcionários compartilhem suas experiências sobre maternidade, paternidade e adoção, o que foi feito no Goldman Sachs, não apenas tem impacto positivo na imagem da empresa, mas melhora de fato o ambiente de trabalho, criando uma rede de apoio entre os funcionários. 

Orientação para pais e cuidadores

As empresas ainda podem ajudar pais e cuidadores oferecendo orientação sobre desenvolvimento infantil, abordando assuntos como gestação, educação, nutrição e outros temas que os ajudem a promover o desenvolvimento saudável da criança. A Danone é exemplo disso. Desde 2016, a empresa realiza o projeto “Primeiros mil dias” – que faz referência ao período que se inicia no primeiro dia de gestação e vai até os dois anos de idade -, cujo objetivo é levar informações a profissionais de saúde e famílias sobre como os cuidados na fase inicial da vida das crianças têm um impacto positivo no futuro.

Por meio de uma parceria com a United Way, a Femsa também lançou, em 2021, o programa Crescer Aprendendo, com o objetivo de apoiar pais e responsáveis na educação dos filhos pequenos, especialmente durante a pandemia da Covid-19. A iniciativa reuniu 500 famílias de cinco cidades, em dois estados, por meio de grupos de WhatsApp, pelos quais eles receberam conteúdos diários sobre desenvolvimento infantil. O projeto também ofereceu apoio de psicólogos e cartão-alimentação.

Retenção de talentos

Uma boa comunicação interna sobre as ações da empresa também é necessária. “É importante que exista uma alta liderança engajada, com posicionamento claro, mas também que o discurso se transforme em práticas”, afirma Bighetti. Na IBM, onde foram organizados workshops com os colaboradores para debater ações, não foram necessários investimentos de porte, só ajustes. “E uma mulher que participou disse que pretendia ficar na empresa pelo resto da vida justamente pela forma com que foi tratada ao se tornar mãe”. 

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