O ano de 2022 é ano de eleição. O que esperar da inflação sobre a carne bovina e, consequentemente, dos preços pecuários? Historicamente, nós sabemos que os preços do boi gordo costumam subir em anos de eleição. Em todos os anos de eleições presidenciais, desde 2002, o preço do boi gordo subiu. E todas as vezes que esse preço sobe, nós temos um efeito inflacionário positivo, porque a carne tem uma boa composição dentro do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e, por consequência, uma grande influência. Então, nós podemos associar anos de alta do boi gordo com anos inflacionários e anos eleitorais têm um pouco mais de potencial para a inflação, porque tem distribuição de dinheiro, que é consequência do financiamento de campanhas.
Antigamente, nós tínhamos o financiamento de empresas privadas a campanhas eleitorais, mas a partir de 2017 isso foi proibido, Agora, as pessoas só podem doar através de CPFs e não mais de CNPJs. Lembrando da regra em que esse CPF pode doar até 10% do que é declarado no seu imposto de renda. Como todo mundo costuma jogar a sua declaração o máximo possível que o leão permite para baixo, fica muito limitado. Então, tivemos uma troca de financiamentos privados, proeminentemente, compondo os financiamentos de campanha, para o financiamento público. Estamos falando de um Fundão agora em 2022 de R$ 4,9 bilhões. A proposta inicial era de R$ 5,7 bilhões, mas foi vetada pelo presidente. Vamos ver como fecha o ano.
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Da maneira como for, o que a gente estabelece é que nós teremos um incremento de dinheiro circulante na economia da ordem de R$ 22 a R$ 23 mais ou menos, a depender do fundão, por cabeça de brasileiro. Ou seja, R$ 22 a mais per capta circulando na economia. E isso acaba ocasionando em um pouquinho mais de consumo de carne bovina.
Mas, para entender a dinâmica do consumo de carne bovina quando entra dinheiro de financiamento de campanha na economia, a gente precisa estabelecer correlações. Então, a alta de preço do boi gordo tem uma correlação positiva com a distribuição de dinheiro de campanhas eleitorais junto ao financiamento de campanhas. Esse é um ponto, a gente já pode esperar que a carne suba. Porém, em que intensidade?
Esta é a pergunta primordial, porque a gente observou intensidades de alta decrescentes da eleição de 2002 para cá. Então, por exemplo, o boi na eleição de 2002 subiu 32% entre o primeiro semestre e o segundo semestre. Depois, na eleição de 2006, 23%. Em 2010, 23%. Já em 2014 subiu 7,5% e na última, em 2018, subiu 4,4%. Ou seja, essa intensidade da alta tem decrescido. E a principal correlação que a gente estabelece é com o poder de compra do brasileiro que tem crescido.
Mas como assim o poder de compra do brasileiro sobe e a intensidade da alta do boi diminui?
O que acontece é que quando a população tem uma renda mais baixa, a carne bovina permeia menos o dia-a-dia desse consumidor. E quando ele recebe um dinheirinho, ele corre. Ele tem um apelo maior para comprar a carne bovina, então faz uma diferença maior e mais estrondosa dentro do consumo como um todo. Quando o consumo per capita é maior, esse consumo é menos elástico. A elasticidade desse consumo cai, porque a carne bovina está ali dentro de uma rotina do lar e a fuga para a carne bovina é um pouco menos intensa, menos elástica. Esse é apenas um ponto, não é único.
E o segundo ponto de importância é o crescimento econômico. Portanto, em anos de crescimento econômico mais pujante, vemos uma fuga maior para o consumo de carne bovina levando a altas mais representativas para o preço da arroba e, consequentemente, um efeito maior sobre a inflação.
Esse ano a gente tem uma projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) meio pífia; estamos saindo de crise econômica, crise sanitária e a situação fiscal é bastante preocupante, com expectativa até mesmo de reforma. Então, o que nós temos é uma projeção de PIB entre 0,5% e 0,9%, que é bem fraca, e isso deve impedir grandes altas para o preço da arroba, mas ainda assim estabelecer uma alta não muito representativa que hoje estamos projetando em 6%.
Lembrando que projeção não é certeza, essa projeção vai sofrer revisões ao longo do ano e vamos ver se a gente consegue chegar perto do que estamos projetando até outubro/novembro, que é o pico do segundo semestre dos preços da arroba do boi gordo. E vai ser o final da grande corrida eleitoral que é quando o pessoal está no esforço máximo para eleger o seu candidato e tem muita distribuição de dinheiro.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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