Simone Jordão: “O mercado internacional espera da moda brasileira originalidade e encantamento”

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Segundo Simone Jordão, os consumidores querem produtos desejáveis e de longa duração

A carioca Simone Jordão é uma mulher de negócios fashion. Prestando consultoria e curadoria para negócios internacionais, ela estabelece uma ponte entre marcas brasileiras e o mercado exterior de moda. “Meu foco não são as semanas de lançamentos, mas o circuito comercial das feiras de moda. Aliás, estou de malas prontas para minha peregrinação anual, começando por Nova York”, informou à coluna em um call diretamente de seu QG no Rio de Janeiro.

Quando a semana de moda da cidade termina, em fevereiro, tem início a New York Fashion Market de vendas no atacado. E aí Simone põe em prática sua expertise. “Os Estados Unidos são um mercado gigantesco, o maior importador de vestuário do planeta, com lojas multimarcas de grande porte em todos os estados. São os compradores desses estabelecimentos que frequentam o evento”, conta.

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Para se ter uma ideia do poder de fogo em jogo, os números do FMI dão conta que apenas no segundo semestre de 2021 – considerado o primeiro período pós-pandemia – os Estados Unidos importaram mais de US$ 78 bilhões em vestuário. Além disso, a previsão de crescimento do PIB do país para 2022 é de 5,2%. “Não é mais apenas manter o mercado em funcionamento. É uma retomada. Back to business!”, afirma Simone que leva seu portfólio de marcas brasileiras para apresentar aos players do varejo americano.

Ela é a representante brasileira das duas principais feiras comerciais dos Estados Unidos: a Coterie, realizada em Nova York, e a Magic, em Las Vegas, representando as costas Leste e Oeste do país. “Este ano só vou à de Nova York, mais voltada à moda contemporânea e onde as marcas brasileiras se encaixam melhor”. Nomes como Cruise, Serpui, Zinzane, Melissa e Schutz são representados por Simone no evento.

A segunda escala do circuito é Paris, para a feira Première Classe, que acontece paralelamente à semana de moda. Evento tradicional, a feira é uma vitrine de oportunidades para o mercado europeu. Entre as marcas brasileiras que Simone leva para a feira parisiense estão a Sy&Vie, de bolsas em madeira esculpidas à mão, com inspiração na natureza – e Dotz, de calçados. “Aí, eu encerro a temporada de outono/inverno e retomo em julho, para as coleções resort na feira Destination, em Miami”, conta.

Simone começou na moda como modelo, nos anos 1980. Depois foi viver em Paris, estudar moda. “Sou formada pela Esmod e lá descobri que gostava mesmo da área comercial da indústria”, recorda. Ainda na capital francesa, trabalhou na Ralph Lauren, no setor do varejo e teve sua primeira grande experiência profissional coordenando a operação comercial da marca americana na Grécia. Fez a abertura da loja em Atenas, onde viveu por sete anos. “De volta ao Brasil, estabeleci minha meta de auxiliar marcas nacionais a produzirem e se instalarem com um business de sucesso no mercado exterior”.

Hoje, ela viaja o Brasil inteiro, frequenta showrooms, está presente nas semanas de moda. “Pesquiso na internet, vejo o que influencers estão usando e o que está vendendo em plataformas de e-commerce como a Shop2Gether”, enumera. Ela também chama atenção para um fato curioso, marcas nacionais pouco conhecidas por aqui mas que estão bombando internacionalmente. É o caso de Paola Bernardi, designer da região de Monte Sião, Minas Gerais. “O trabalho em tricô dela é incrível e algumas peças lembram Azzedine Alaïa”, avalia Simone.

“É uma empresa tradicional da região e, apesar de ter modernizado seu produto, mantém no Brasil uma clientela mais conservadora, porque nosso mercado ainda considera o tricô algo muito artesanal e careta”, explica. Enquanto isso, nos Estados Unidos, influencers como Rocky Barnes – 2,6 milhões de seguidores no Instagram – desfilam looks da brasileira. “Em posts não pagos”, ela faz questão de ressaltar.

“Recentemente em Trancoso, a top model Alessandra Ambrósio estava com um vestido Paola Bernardi que comprou em Los Angeles, onde ela mora”, conta Simone toda orgulhosa, avisando que a marca brasileira está presente em 50 pontos de venda americanos.

Por falar em Trancoso, Simone revela que é o seu lugar favorito quando não está em peregrinação fashion: “Tenho casa lá há mais de vinte anos. Adoro. Principalmente fora de temporada”, revela.

A seguir, os principais momentos da conversa com Simone Jordão:

Editar é preciso

“Hoje os profissionais de moda não se obrigam mais a percorrer todo o circuito internacional de desfiles e feiras. A pergunta é: ‘Estou indo para essa cidade por que mesmo?’. É preciso saber aonde ir e ter em mente o que realmente é importante para o seu business. Sem falar que temos eventos presenciais, online e híbridos.”

Feiras livres

“As feiras internacionais são divididas por segmentos. Enquanto a Coterie, em Nova York, é a maior feira comercial de moda da Costa Leste americana, a Magic, em Las Vegas, atende a Costa Oeste. Ela é muito mais vanguarda e ‘cutting edge’. Além disso, os preços são extremamente competitivos e, na maioria das vezes, as marcas brasileiras não acompanham essa demanda.”

Job description

“Trabalho com marcas interessadas em estabelecer negócios com o mercado externo. E não é necessário ser uma grande empresa para isso como a Farm e Animale. Mas é necessário um mínimo de estrutura e fôlego para realizar um trabalho que tenha continuidade. No caso da Farm, eles têm um departamento internacional, mas me procuram para uma curadoria de feiras. Conhecer quais as mais indicadas para apresentar o seu produto.”

Siga as instruções

“O mercado internacional espera da moda brasileira originalidade e encantamento. Passado esse primeiro momento, da descoberta, a marca tem que se comportar como qualquer outra: produto certo, preço certo e entrega certa. É preciso corresponder ao padrão internacional. Não dá para se justificar com o cliente dizendo que o brinco de miçanga arrebentou por causa de um problema com o fornecedor e, por isso, a entrega atrasou. Ninguém quer saber disso.”

Ginga brasileira

“Sinto que no Brasil as grandes marcas tiveram maior dificuldade para se adaptar às mudanças que têm ocorrido nos últimos tempos, principalmente durante a pandemia. Os menores se adaptaram melhor, trazendo para o momento exatamente aquilo que a gente precisa: produtos desejáveis e de longa duração. A moda não é mais para ser usada e descartada logo em seguida. É isso que está sendo bem visto no mercado internacional.”

O novo sempre vem

“O surgimento de novos nomes na moda é bom para o sistema inteiro. É uma injeção de vigor e entusiasmo. É uma oportunidade para quem está iniciando e faz os já consagrados refletirem sobre seu trabalho e se mexerem para produzir algo diferente daquilo que vêm fazendo há anos.”

Tradicional sim, jurássico jamais!

“Dois dinossauros do varejo americano, as lojas de departamentos Neiman Marcus e a Bergdorf Goodman montaram um edital para atrair novas marcas – e reposicionar seus antigos fornecedores. Neste edital são exigidas as seguintes características: diversidade e sustentabilidade ambiental. Afinal, mesmo os consumidores de lojas tão tradicionais querem consumir, por exemplo, produtos feitos com couro vegano. A indústria da moda está em movimento.”

Tipo exportação

“Vejo duas marcas brasileiras com grande potencial no mercado externo atualmente. Uma é Paula Ferber, nome bem estabelecido no nosso setor de calçados e acessórios. Ela está produzindo bolsas lindas com um material incrível, feito à base do bagaço da cana de açúcar, um grande apelo ao consumo responsável. A outra é a Nay Sunset Wear e apresenta um trabalho primoroso de bordados. São dois nomes que estou levando para a Coterie, em Nova York.”

Com Mario Mendes

Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.

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