A americana que fez história com o novo transplante de coração

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The Washington Post/Getty Images

Ela forneceu um coração cultivado em um porco para o primeiro transplante bem-sucedido desse tipo

Quando o Centro Médico da Universidade de Maryland anunciou o primeiro transplante bem-sucedido de um coração que foi cultivado em um porco geneticamente modificado, em janeiro, demarcou uma grande vitória para uma das self made women mais rica dos Estados Unidos.  

A Revivicor, uma subsidiária da United Therapeutics – fundada e liderada por Martine Rothblatt – forneceu o coração que tornou a cirurgia possível. Ex-advogada e cofundadora da Sirius Satellite Radio, Rothblatt, aos 67 anos, Rothblatt tem percorrido uma longa jornada rumo ao sucesso da biotecnologia.

A United Therapeutics, companhia listada na Nasdaq, vem experimentando a clonagem e modificação genética de porcos nos últimos anos com o objetivo de criar órgãos que o corpo humano não rejeite durante os transplantes. Por meio da Revivicor, trabalhou para fabricar órgãos como rins e corações para serem transplantados em pacientes com doenças renais e cardíacas em estágio terminal.

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Criada em San Diego, Rothblatt pegou carona ao redor do mundo na faculdade e se sustentou tocando em hotéis como música. Depois de visitar uma instalação de satélites da NASA nas Ilhas Seychelles, na África Oriental, ficou fascinada com as capacidades das redes de satélites, que poderiam permitir que pessoas em todo o mundo ouvissem a mesma música. Quando ela voltou aos Estados Unidos (na época, ainda do sexo masculino pois nasceu homem e em 1994, passou por uma cirurgia de mudança de sexo), se formou em direito e fez MBA na UCLA (Universidade da Califórnia) e trabalhou com direito de comunicações via satélite para um escritório de Washington. Em 1990, cofundou a Sirius Satellite Radio para executar sua visão da tecnologia de rede via satélite.

Rothblatt abriu o capital da Sirius em 1993 e logo se mudou para um empreendimento mais pessoal: a United Therapeutics. Ela lançou a empresa em 1996 para buscar a cura para a hipertensão arterial pulmonar – pressão alta que afeta as artérias do pulmão e do coração – depois de sua filha ter sido diagnosticada com a doença, aos seis anos de idade. A companhia, que teve oferta pública inicial em 1999, agora vende quatro medicamentos aprovados pela FDA (Food and Drug Administration) usados ​​para tratar a doença. Antes do desenvolvimento dos remédios, a enfermidade rara apresentava alta taxa de mortalidade poucos anos após o diagnóstico dos pacientes. Esses tratamentos receberam o crédito por salvar a filha de Rothblatt e milhares de outras pessoas.

Aos 67 anos, Rothblatt continua no posto de CEO da United Therapeutics, que tem um valor de mercado de quase US$10 bilhões. Classificada em 56º lugar na lista da Forbes das mulheres mais ricas dos Estados Unidos de 2021, e uma das mulheres transgênero mais bem-sucedidas do mundo. Foi Rothblatt quem, desde cedo, direcionou sua empresa para transplantes de órgãos. “No meu negócio na United Therapeutics, encontrei muitos pacientes que infelizmente faleceram enquanto esperavam por um transplante de órgão”, disse em entrevista à Forbes em 2018.

À época, ela disse que queria encontrar uma maneira de salvar 80% dos pulmões doados que são considerados instáveis ​​para transplante. Uma das subsidiárias da United Therapeutics, a Lung Biotechnology Public Benefit Corp., usou um método conhecido como perfusão pulmonar ex vivo para infundir nutrientes nos pulmões a fim de otimizar sua viabilidade para transplante. Em 2015, a United Therapeutics colaborou com a Mayo Clinic para operar um centro para o procedimento de restauração.

“Esse é o earthshot que está me ajudando, passo a passo, a chegar ao moonshot”, disse Rothblatt em 2018. “O moonshot é ter um suprimento ilimitado de órgãos para transplante”. 

Para isso, a United Therapeutics diz ser a maior clonadora de porcos do mundo. Ganhou fama pelo xenotransplante em outubro, quando a NYU Langone Health, em Nova York, anunciou que os cirurgiões do centro médico anexaram um rim de porco modificado, de um porco Revivicor, que funcionou normalmente em um humano com morte cerebral em suporte de vida. 

Em 2018, ela afirmou que a empresa havia substituído dez genes em órgãos de porcos que o corpo humano rejeitaria por “formas humanizadas dos genes” ou removeu os genes completamente.

Transplante de coração histórico

A cirurgia de janeiro forneceu informações para a comunidade médica sobre xenotransplantes que podem servir para pesquisar a produção futura de órgãos. O homem que recebeu o transplante de coração, David Bennett, tinha doença cardíaca terminal e, em 7 de janeiro, foi submetido ao procedimento após ser considerado inelegível para um transplante de coração convencional, de acordo com o UMMC (Centro Médico da Universidade do Mississipi).

“Foi uma cirurgia inovadora e nos deixa um passo mais perto de resolver a crise de escassez de órgãos”, disse Bartley Griffith, o médico que fez o transplante de coração para Bennett, em um comunicado de imprensa da UMMC. “Simplesmente não há corações humanos suficientes disponíveis para atender à longa lista de potenciais receptores”.

As ações da United Therapeutics, das quais Rothblatt detém quase 1,5%, subiram 7,9% na semana do anúncio. 

Ela também é piloto de helicóptero licenciada e trabalhou no desenvolvimento de helicópteros elétricos. Em 2004, Rothblatt cofundou a Terasem Movement Foundation, uma organização sem fins lucrativos que visa pesquisar nanotecnologia para extensão da vida humana. Por meio da fundação, ela pressionou as pessoas a “criar um backup digital” de seus cérebros para computadores, com o potencial de um dia criar sósias de pessoas vivas, executados por computador.

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