Cada vez mais empreendedores se perguntam como aproveitar a onda de investimentos em startups para atrair capital. Em 2021, os aportes somaram US$ 621 bilhões, segundo dados globais da CB Insights.
Especialistas consultados pela Forbes apontam por onde começar.
O que investidores buscam em uma startup?
Inicialmente, é importante entender quais são as expectativas dos investidores em relação às startups. Segundo Júlia De Luca, gerente de tecnologia do Itaú BBA, existem três aspectos principais que são levados em consideração durante o processo seletivo.
O primeiro deles é a equipe que compõe a startup. A equipe se torna especialmente relevante quando a empresa ainda está no início do seu ciclo, pois é justamente na capacidade dessas pessoas que os investidores apostam.
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De maneira geral, uma boa equipe é composta por indivíduos com habilidades complementares, que possuem experiências relevantes e aderem à visão da companhia. É recomendável que a startup conte com mais de um fundador, pois uma pessoa dificilmente conseguirá impulsionar o crescimento de uma startup sozinha.
“Está mais do que comprovado que, quando você tem um bom time de fundadores, eles acabam atraindo pessoas boas”, comenta De Luca. “Tem até aquele ditado: ‘é mais fácil dar certo uma ideia ruim com pessoas boas, do que uma ideia boa com pessoas ruins’”.
O segundo aspecto é o mercado alvo, que se refere ao mercado que a startup considera aproveitável ou disponível para consumir o seu produto ou serviço. Nesse sentido, é importante diferenciá-lo do tamanho da oportunidade, que se refere ao mercado total que, hipoteticamente, poderia ser atendido pela empresa – que não leva em conta limitações geográficas ou a concorrência, por exemplo.
“O fundo de investimentos sempre quer que a empresa fique gigante e gere bilhões”, diz a especialista. “Então não adianta você ter uma excelente ideia e ela focar um nicho muito pequeno.”
O terceiro aspecto é o próprio produto, que deve atender às demandas do mercado alvo. Por isso, é necessário estar atento ao conceito de “product-market fit”, que avalia essa adequação e é o principal indicativo de que existem pessoas dispostas a pagar pela ideia.
Amure Pinho, investidor e ex-presidente da Abstartups (Associação Brasileira de Startups), porém, lembra que os requisitos podem variar de acordo com o investimento escolhido: “Investidores-anjo, por exemplo, costumam buscar startups que já estão em crescimento com ritmo acelerado e recorrente, acima de dois dígitos mensais nos últimos seis meses.”
Como preparar sua startup para receber investimentos?
Uma vez resolvidas as questões que envolvem produto, mercado alvo e equipe, existem outros detalhes que podem influenciar o interesse de investidores em uma startup. Esse é o caso, por exemplo, do pitch – ou seja, do discurso utilizado pelo empreendedor para vender a sua ideia.
No pitch, é necessário comunicar de forma sucinta qual é a tese do produto, abordar qual problema ele se propõe a resolver e de que maneira pretende fazer isso. Ele funciona como um convite ao investidor para conhecer mais sobre a empresa, e geralmente é o primeiro passo em direção a uma parceria.
Segundo De Luca, porém, é comum que ocorram alguns erros nessa etapa. “Quantas ideias nós vemos que são muito boas, mas o empreendedor demora quarenta minutos para chegar ao ponto? Às vezes ele está tão imerso no produto que trata aquilo como óbvio, e não explica o suficiente”
Aprender a fazer um bom pitch pode ser útil não apenas para atrair investidores, mas também para conquistar clientes, cativar colaboradores e aperfeiçoar o próprio objetivo da startup.
Também é necessário demonstrar ao investidor que existe um olhar estratégico e que os recursos captados serão utilizados para objetivos específicos. “Lembre-se de apresentar as metas do negócio e as projeções de crescimento a curto, médio e longo prazo”, complementa Paulo Buso, head de marketing da Abstartups.
Aspectos legais devem estar no radar dos empreendedores durante essa fase, sendo recomendável contar com os serviços de um advogado para elaborar um contrato social, entender os termos e condições colocados pelos investidores, e garantir o cumprimento da legislação e dos termos contratuais.
O ambiente regulatório para startups no Brasil ainda é incipiente, e passa por mudanças constantes. Ainda assim, já é possível encontrar escritórios de advocacia especializados nesse setor, e contratar serviços desse tipo permite que a empresa evite multas e outras punições que possam comprometer financeiramente a sua atuação.
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Que tipo de investimento escolher?
Existem diversos tipos de investimentos para startups. As aceleradoras, por exemplo, são empresas lideradas por empreendedores ou investidores experientes que buscam auxiliar no crescimento de startups através de apoio financeiro, mentoria e networking, e exigem participação no capital da empresa.
Já as incubadoras oferecem auxílios semelhantes, mas escolhem startups de acordo com alguma necessidade governamental ou regional, e os investimentos ocorrem através de editais de verbas públicas. As incubadoras são mais burocráticas e são lideradas por gestores com experiência em mediar o poder público, por exemplo.
O venture capital, por sua vez, ocorre através da aquisição de ações ou de direitos de participação por meio de um grupo de investidores, que passam a fazer parte do quadro societário da empresa. Já o investidor-anjo é um pessoa física que injeta capital próprio em uma empresa, também em troca de uma participação no negócio.
Outras modalidades incluem private equity, capital semente e venture building.
Segundo De Luca, para escolher o melhor tipo de investimento, é preciso olhar para o valor agregado que ele traz. Existe o caso, por exemplo, dos investidores que já foram operadores de uma startup, e que podem ajudar o empreendedor no dia-a-dia. Ou, então, há os fundos globais que, além de trazerem o financiamento, também garantem renome à empresa.
“Também pode ser um anjo que seja um alto executivo de uma empresa que poderá se tornar minha cliente no futuro”, explica.
A principal forma de se expor a esses diferentes investidores é através do networking – seja participando de eventos ou sendo ativo nas redes sociais, por exemplo. O networking também é importante para alavancar o produto da startup e atrair novos clientes, especialmente no início da empresa, quando não há muito dinheiro disponível para marketing.
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Buso acrescenta que, mesmo após a captação, é necessário cultivar uma relação saudável com o investidor. “Isso cria possibilidades de novas captações, ou de mudanças no modo de utilização do recurso acordado ou até mesmo no próprio montante”, afirma.
Os especialistas argumentam que, apesar do aumento da taxa básica de juros e do período eleitoral, o mercado de startups deve continuar a crescer no Brasil em 2022. Por conta do cenário macroeconômico contracionista, porém, os investidores devem ser mais seletivos e criteriosos.
“Vivemos sem dúvidas o melhor momento do ecossistema de startups brasileiro. Ambiente mais maduro, grandes empresas e entidades de fomento mais preparadas e próximas aos empreendedores, e capital chegando na ponta, equação que em geral tende a trazer bons resultados”, afirma Pinho.
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