O plástico é um material com propriedades excepcionais. Além de ser versátil, barato e durável. Ou seja, apresenta propriedades únicas, o que o torna um excelente material para uma ampla gama de aplicações, inclusive para bens de consumo rápidos. O maior mercado de uso do plástico é o de embalagens.
Por outro lado, sua durabilidade também apresenta um desafio, principalmente quando vaza da cadeia de valor e se torna poluição, o que significa que não foi coletado, despejado, jogado no lixo ou foi descartado em aterros não controlados. Os plásticos persistem no meio ambiente por centenas de anos, causando danos à natureza e às pessoas.
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De solução a problema, o plástico se tornou o maior desafio ambiental do século.
De acordo com o relatório “The Business Case for a UN treaty on Plastic Pollution”, da World Wildlife Fund (WWF), Ellen Macarthur Foundation e Boston Consulting Group (BCG), atualmente, mais de 11 milhões de toneladas de plástico estão fluindo para o oceano a cada ano e não há sinal de que as taxas de vazamento estejam diminuindo. E o pior, num cenário de negócios em transição, há lâmpada amarela de alerta ao setor, estima-se que o volume global de plástico que entra no oceano deve triplicar nos próximos 20 anos.
A não ser que todos os setores da cadeia sejam capazes de trabalhar juntos para eliminar o plástico desnecessário, mudando para modelos reutilizáveis, aumentando radicalmente os níveis de reciclagem e interrompendo os vazamentos no sistema atual, o plástico continuará poluindo os ecossistemas e resultando em danos ecológicos, sociais e econômicos significativos ao mundo.
Se a poluição plástica nos ecossistemas também impacta os negócios, a conscientização da sociedade sobre o problema está crescendo.
Muitas empresas estão enfrentando riscos de reputação à medida que os consumidores exigem respostas eficazes das empresas em toda a cadeia de valor do plástico. Além disso, os colaboradores estão cada vez mais procurando trabalhar em empresas com propósito social e ambiental positivos. Os investidores esperam que as empresas gerenciem sua “pegada plástica” de forma ética e responsável.
Os dados da Kantar, em colaboração com Europanel e GfKA, revelam que a poluição plástica está classificada entre as três principais preocupações ambientais globalmente.
Com a crescente evidência científica dos impactos ambientais e sociais da poluição plástica, o interesse das pessoas no tópico aumentou nos últimos anos: as pesquisas de tendências do Google por plástico tiveram um aumento dramático nos mercados, com um claro ponto de inflexão em 2017. O plástico passou a ser visto como o material mais negativo usado para itens de bens de consumo. A poluição plástica fica atrás apenas das mudanças climáticas em pesquisas globais sobre as preocupações ambientais mais urgentes, e ocupa o primeiro lugar na Ásia [fonte: Pesquisa BCG ao Consumidor].
As embalagens plásticas estão entre as principais questões ambientais, sociais e de governança (ESG) para empresas de alimentos, bebidas e bens de consumo embalados. Nos últimos anos, os principais investidores da cadeia de embalagens começaram a repensar suas teses de investimento, evoluindo seus modelos para garantir vantagem competitiva alinhada aos princípios da economia circular.
O plástico e as embalagens são identificados nas principais empresas de alimentos e bebidas como uma das questões ESG mais importantes a serem abordadas, importantes para as partes interessadas – internas e externas – e relevantes para o sucesso dos negócios a longo prazo.
É importante reiterar que as práticas ESG (ambiental, social e governança) são fatores-chave usados para medir a sustentabilidade e o impacto ético de um investimento em um negócio ou empresa.
Assim, investidores estão direcionando capital para empresas com foco em práticas sustentáveis. Esse crescimento é duas vezes maior em ativos sob gestão ESG do que ativos tradicionais.
Dada a urgência e a escala do desafio, e a necessidade de ampliar os esforços atuais, as principais empresas globais estão pedindo uma ação em conjunto. Mais de 70 empresas globais e fundos de investimentos lançaram recentemente – janeiro de 2022 – um manifesto, tendo como base o relatório já referido: “The Business Case for a UN Treaty on Plastic Pollution”, da WWF, Ellen Macarthur Foundation e BCG.
O manifesto aponta a necessidade de um tratado para combater a poluição plástica, além da importância de se estabelecer padrões globais e garantir que todos os países e negócios estejam cumprindo seus papéis. Há um convite para que mais empresas endossem publicamente o manifesto, pedindo a todos os estados membros das Nações Unidas que iniciem negociações sobre um tratado global sobre poluição plástica.
A necessidade de ação é urgente, assim como a necessidade de governos, empresas, fundos e sociedade, em toda a cadeia de valor do plástico, trabalharem juntos em uma escala sem precedentes. Não há mais tempo. O foco é o plástico. Um problema global que requer uma solução global.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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