No final do ano passado, a gaúcha Fernanda Weiden recebeu uma proposta do CEO da VTEX, Geraldo Thomaz, para se tornar Chief Technology Officer (CTO) da empresa brasileira que é líder em comércio digital. A engenheira havia feito uma carreira impressionante na área de confiabilidade em empresas como IBM, Facebook e Google, havia saído da correria que era a vida no Vale do Silício, mudou-se para a Europa, engravidou da primeira filha e, entre uma mamadeira e outra, virou conselheira técnica da VTEX.
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O fundador gostou tanto de seu trabalho que a convidou para chefiar o time em tempo integral – ainda que isso passe por áreas em que Fernanda nunca atuou, como design de produto e comércio digital. “Ele me fez a proposta em dezembro e respondi que adoraria conversar no início do ano mas, quando pensei em aceitar, descobri que estava grávida do meu segundo filho, que chega em abril”, diz. Ligou para o chefe pronta para recusar o convite, mas Geraldo insistiu em tê-la na equipe. Na semana passada, assumiu como CTO e conta aqui como foi construir essa carreira em tecnologia e como se prepara para a chegada do bebê enquanto assume um lugar no topo de uma companhia. “Estou sentindo aquele nervosinho gostoso, sabe?”.
Forbes: Você começou sabendo que, em quatro meses, vai fazer uma pausa para cuidar do seu bebê. Como você pensou nessa organização de tempo e como negociou sua licença?
Fernanda Weiden: Eu fiz um planejamento incluindo o que eu acho que consigo entregar nesse período. Vou focar nessas coisas em vez de tentar entender tudo de uma vez já que temos a limitação de tempo. Aí vejo se tiro quatro ou cinco meses. A licença…eu devo tirar 4 ou 5 meses, dependendo do andamento das coisas. Não foi uma questão.
F: Como você encarou essa transição, de conselheira para executiva da empresa?
FW: Em 2019, quando saí do Facebook, resolvi que queria pegar leve porque eu tinha passado sete anos bem intensos lá. Eu entrei menos de um mês depois do IPO deles, o que é uma coincidência porque a VTEX acabou de passar por um IPO também. Então, depois daqueles anos intensos, queria ter um tempo para mim. Isso é prioridade, sempre coloco um tempo para me cuidar dentro dos meus dias. Mas, claro, ao mesmo tempo tinha medo porque aí vem a síndrome de impostora pois você acha que vai ser esquecida. Então não queria parar completamente ou achava que todo mundo iria esquecer que eu existo. Por isso passei a fazer uma consultoria aqui, outra ali, mais para acompanhar o que estava acontecendo no mercado. Até que um amigo me contou que estava buscando ajuda e eu fui lá conversar: era a VTEX. Eu trabalhava com o time de liderança da área de engenharia, mas focada também em produto, tentando ajudá-los a identificar os desafios ou áreas que deveriam ser olhadas e que o time interno talvez não estivesse enxergando no momento, quais são as oportunidades para explorar esse tipo de coisa. Sendo assim, já participava de algumas reuniões da liderança, me consultavam para opinar em planos… Daí foi natural quando chegou o convite do Geraldo.
F: O que fez a diferença para que você fosse considerada para esse cargo?
FW: Eu tenho uma boa experiência de gestão. Não existem muitas pessoas no Brasil,
mulheres ou homens, que tenham saído do país, tido a experiência de
trabalhar em cargos de diferentes em empresas que são referência na área de tecnologia, como Google, Facebook… Eu comecei a trabalhar no Google como engenheira jr.. E saí do Facebook como diretora, com uma responsabilidade enorme, com mais de 250 pessoas no meu time. E, justamente por ter passado por essas empresas-modelo, eu descobri que nem tudo é perfeito. E posso trazer esse reality check para outros lugares, desmitificar um pouco as coisas.
F: Você experimentou os dois estilos de trabalho e de vida. Qual deles prefere?
FW: Cada coisa tem seu tempo. Tem um contexto pessoal nessa história. Nos últimos dois anos em que eu estava trabalhando no Facebook, no Vale do Silício, estava tentando engravidar e não conseguia. Fiz vários tratamentos que não deram certo. Eu tinha tudo planejado: como seria a minha vida quando viesse o bebê, ir pra Europa, onde minha família e a do meu marido vivem… Mas as coisas não saíram assim e resolvi sair, me dar um tempo, trabalhar menos. E, nesse período, acabei engravidando naturalmente da minha primeira filha. Passei a trabalhar só de casa, poucas horas por dia, no máximo 2h, foi ótimo. Passamos a pandemia em casa com o bebê. Mas comecei a sentir novamente aquela vontade de fazer algo novo e, sei que isso é um clichê, mas eu gosto de construir junto com as pessoas. A não ser que você seja um conselheiro mão na massa – o que às vezes eu era, o conselheiro avalia e depois vai embora. E isso, para mim, acabou pegando com o tempo. Entrei então para a Unico como vp de engenharia, mas nisso começou a pandemia e minha mãe ficou “trancada” no Brasil por um longo tempo. Então, novamente, tirei alguns meses para que minha filha pudesse vivenciar a vida em família, quando pudemos nos encontrar, e só depois pensei em voltar a uma carreira executiva. Fui, então, para a VTex, comecei me envolver mais a fundo em alguns assuntos por lá, até que entrei totalmente.
F: E como foi o caminho contrário: se vender como conselheira foi difícil?
Interessante é que eu pensava que poderia ser difícil, mas esse mundo de tecnologia, apesar de ser global e enorme, é um mundinho pequeno onde todo mundo se conhece. Então, quando eu estava saindo do Facebook, um amigo que trabalhou comigo no escritório de Zurique e que é membro do conselho dessa empresa, a Unico, me indicou. Nunca fiz um website ou algo assim. E também desenvolvi um trabalho para o app Deliveroo, que é aqui da Inglaterra, que soube do meu trabalho e entrou em contato. Foi muito via rede de contatos que eu consegui me colocar como conselheira.
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