Copom deve abrir possibilidade para desaceleração na alta de juros, diz economista-chefe do Bradesco

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Adriano Machado/Reuters

Copom irá se reunir na próxima semana, com expectiva de elevar a taxa básica de juros a 10,75%

Após mais de dez meses do início do ciclo de alta de juros no Brasil, chegou a hora de o Banco Central conceder a si mesmo flexibilidade para reduzir o ritmo do aperto monetário, disse o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC se reúne na semana que vem e já em dezembro anunciou intenção de elevar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 1,5 ponto percentual – magnitude em curso desde outubro. O encontro seguinte está agendado para março.

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“Imagino que o BC escreva um comunicado com flexibilidade suficiente para replicar a alta de 150 pontos-base em março ou fazer menos se as condições assim permitirem”, disse Honorato em entrevista à Reuters na última terça-feira (25).

“Começou a chegar a hora de o BC se dar flexibilidade para poder fazer menos ou igual”.

Segundo o economista, considerando um cenário em que a inflação siga em linha com a leitura do BC, duas discussões podem ser inseridas ou destacadas publicamente pela autoridade para justificar uma redução no ritmo de elevação do juro: a defasagem e a potência da política monetária.

“Uma hora, (o BC) vai ter que olhar para o quadro todo e esperar um pouco os efeitos. Eu sei que é angustiante para o BC ver as expectativas crescendo, a inflação corrente não dando trégua, mas é aquela coisa… A política monetária atua com defasagem.”

O BC começou a cortar a Selic em julho de 2019 e acelerou a redução após o estouro da pandemia, já em 2020, levando o juro a uma mínima nominal histórica de 2% em agosto daquele ano.

Mas a partir de março de 2021 a taxa voltou a ser elevada, de forma ininterrupta e em ritmo crescente, conforme os dados correntes e as expectativas de inflação pioravam. Hoje, está a 9,25% ao ano, e a perspectiva é de que chegue a 10,75% na próxima quarta-feira, que seria o maior nível desde maio de 2017.

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Já sobre a potência das altas dos juros, Honorato afirmou que é a primeira vez que o país vai sentir “o efeito de um aperto monetário sob um novo regime de redução de crédito direcionado”, mencionando que as taxas de juros cobradas por bancos públicos no passado eram resultado de mais subsídio.

Em 2017, com o governo ainda sob comando de Michel Temer, foi anunciada a criação da TLP, Taxa de Longo Prazo, para gradualmente substituir a TJLP, Taxa de Juros de Longo Prazo, como referência nos contratos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico).

Um dos objetivos era deixar a política monetária mais efetiva, com uma taxa mais alinhada ao mercado, já que durante décadas a TJLP ficou abaixo da taxa de empréstimo de referência do país. O último ciclo de alta de juros antes de 2021 havia sido encerrado em 2015.

O Bradesco vê a Selic alcançando 11,75% em março, mas Honorato previu que a taxa pode chegar a 12,25% entre março e maio, a depender das condições econômicas, e deve voltar a cair após a eleição presidencial, marcada para outubro.

O banco privado deve divulgar nova revisão de cenário econômico para o Brasil nas próximas semanas.

PEC DOS COMBUSTÍVEIS

Para o economista, a discussão sobre uma Proposta de Emenda à Constituição para reduzir os tributos federais PIS-Cofins que incidem sobre os combustíveis preocupa mais no âmbito fiscal do que a pressão de servidores por reajustes salariais.

“Acho (a PEC) muito mais grave do ponto de vista fiscal, porque vai estar burlando a instituição fiscal”, disse.

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O presidente Jair Bolsonaro confirmou que está negociando com o Congresso uma PEC nesse âmbito. Entre os poucos detalhes divulgados até o momento está a possibilidade de inclusão de impostos estaduais no projeto.

Segundo Honorato, renunciar a bilhões de reais em arrecadação para baixar o preço de combustíveis seria contornar a responsabilidade fiscal alegando manutenção do teto. “Abrir mão de receita sem compensar é enfraquecer o fiscal”, disse ele, mencionando patamares elevados de endividamento do país.

Quanto à pressão de servidores por reajustes, ele disse que “qualquer solução fora do teto seria horrível, mas eu não estou considerando essa hipótese, por isso estou dando um certo ‘downplay’ (minimizando)”.

Bolsonaro sancionou o Orçamento de 2022 com R$ 1,7 bilhão reservados para reajustes salariais prometidos por ele a policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários. A autorização da verba deflagrou uma onda de protestos em outras categorias do serviço público, e o governo recentemente tem argumentado que o martelo não foi batido sobre a execução do reajuste.

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