A prévia de resultados da SAP, apresentada há alguns dias, espelhadas no balanço definitivo que sai hoje (27), mostrou que a empresa teve um crescimento de 17% em sua receita de tecnologia em nuvem. No montante de 2021, o crescimento estimado é de 2%. No Brasil, como destaca Adriana Aroulho, CEO da SAP no país, em 2021, vale considerar um destaque importante para o aumento de clientes unicórnios, das startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, e o incremento dos investimentos feito pelos clientes em computação em nuvem.
Em entrevista à Forbes Brasil, Adriana, que completou um ano no comando da companhia, em agosto de 2021, ressalta a importância do equilíbrio na relação entre dados e ESG, reforça os impactos do ecossistema de startups brasileiro também na demanda por serviços de software e sinaliza o varejo como um segmento mais avançado nas discussões envolvendo tecnologias como metaverso. “O potencial da nuvem segue sendo enorme. E com o 5G chegando forte aumentam a conectividade e as possibilidades de aceleração e velocidade das tecnologias. Mas acredito que essa aceleração tem que vir acompanhada de transformação cultural”, destaca.
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Forbes Brasil: A SAP trabalha o conceito de empresa inteligente há alguns anos, o que define esse perfil de companhia?
Adriana Aroulho: O conceito de uma empresa inteligente não mudou. Porém, nos últimos anos, e com todas as transformações que surgiram a partir da pandemia, deixou de fazer sentido falar em empresas inteligentes sem o tema da sustentabilidade. E esse compromisso é um dos grandes aprendizados, mas segue sendo um assunto da agenda atual e, sobretudo, para o ano de 2022. Uma empresa não se torna inteligente sem ser sustentável, está mais do que provado que são temas indissociáveis. Além disso, uma outra premissa importante desse momento que vivemos é a organização em rede. As empresas precisam estar conectadas. Seja uma rede de compras, de logística, não importa, mas quando elas se conectam, o potencial de avanço é enorme. A tecnologia ajuda na eficiência, na eliminação das tarefas repetitivas, mas ela também acelera a agenda de sustentabilidade e transformação cultural.
F: Como transformar-se ao mesmo tempo em que seu desafio como empresa é colaborar na mudança do negócio de outras companhias?
AA: Temos um desafio constante de ser o exemplo. Antes de ser a empresa que está contribuindo para que os clientes cheguem a esse estágio de sustentabilidade, eficiência e inteligência, eu, SAP, preciso fazer a lição de casa. E, nos últimos anos, nosso esforço também se baseia em ser aquilo que estamos almejando para nossos clientes. A SAP, por exemplo, é líder do índice de sustentabilidade, como empresa de software, da Dow Jones, há alguns anos. Desde 2012, reportamos resultados e compromissos socioambientais e temos agendas locais que passam por diversidade e ESG que são premissas importantes do nosso negócio. E isso, no fim do dia, é fundamental, sobretudo, na relação com o desafio dos nossos clientes.
F: Na prática, de que maneira se dá essa relação entre dados e sustentabilidade?
AA: Há um projeto que desenvolvemos com a Suzano Papel e Celulose que foi a integração de todos os dados espalhados pela empresa em um mesmo cockpit. Isso ajudou a companhia na gestão social e ambiental. Neste caso, a grande conclusão é de que não faz sentido manter uma agenda de ESG sem estrutura de dados. É fundamental o equilíbrio para a agenda de transformação. Em 2022, a SAP faz 50 anos no mundo e lidamos com clientes de vários segmentos e níveis diferentes de maturidade. Nativos digitais, startups, grandes empresas. Mas o que há em comum, em todas elas, é que eficiência e gestão precisam estar aliadas a uma arquitetura de dados e é preciso dar os primeiros passos do ponto de vista de fundação. Não há um único caminho de partida, mas a gestão de dados aliada à sustentabilidade é sinônimo de uma empresa mais eficiente.
F: Que tipo de impacto a pandemia deixa do ponto de vista de transformação digital a partir da retomada?
AA: Claro que vivemos muitas reflexões e aprendizados, além de uma aceleração intensa nesses últimos dois anos. Mas eu destacaria dois temas derivados desse movimento. O primeiro é cibersegurança. Com certeza a maneira com as empresas lidam com os dados e segurança mudou e está na ordem do dia, inclusive para esse ano. Outro assunto é a nuvem. A tecnologia como serviço que permite às empresas acelerar outras agendas. No caso da nuvem, é um conceito de tecnologia que traz flexibilidade e a possibilidade de manter a inovação no tempo. Hoje, ainda conversamos com empresas que implementaram nosso ERP em 2007 com versão de 2004. A lógica é a mesma do smartphone ou outros devices que utilizamos: é preciso que o sistema esteja atualizado. A nuvem permite que a atualização seja imediata e a inovação se mantenha no seu tempo. Eu diria então, que cibersegurança e nuvem, de forma prática, estão na agenda corporativa neste 2022.
F: A tecnologia em nuvem foi fundamental para a revolução que vivemos, sobretudo com o surgimento das startups, ainda há muito que explorar desse potencial?
AA: O potencial da nuvem segue sendo enorme. E com o 5G chegando forte aumenta a conectividade e as possibilidades de aceleração e velocidade. Mas acredito que essa aceleração tecnológica tem que vir acompanhada de uma transformação cultural. Se um cliente leva suas complexidades para a nuvem sem ter um trabalho de cultura e gestão anterior, nada vai mudar. É importante, antes da tecnologia, olhar a gestão. Isso faz toda a diferença. Como eu consigo, realmente, usar o melhor que a tecnologia tem. Isso vale sim para as empresas tradicionais, mas também para as startups que já nascem digitais ou app first. Hoje, temos vários unicórnios em nossa base que também buscam tecnologia de gestão.
F: Tem aumentado a busca de startups, e unicórnios, por sistemas mais sofisticados de gestão? Por qual motivo isso vem ocorrendo?
AA: Passamos a ter vários unicórnios como clientes. E eles também vivem as dores do crescimento. Alguns querem se internacionalizar. Outros gerenciar diferentes moedas. Na medida em que uma startup vai ganhando tamanho e complexidade, é necessário um sistema de gestão que atenda a essa complexidade. Naturalmente, essas empresas precisam focar no negócio principal para poder pensar em um IPO ou para sair em busca de uma nova rodada. Em 2021, definitivamente, as startups foram um destaque importante do ponto de vista de negócios, o nosso crescimento tem reação também com esse movimento. Mas o equilíbrio foi importante. Ou seja, a habilidade de conseguir ajudar empresas grandes e também as menores ou em estágios diferentes.
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F: O quanto que temas da moda como metaverso já fazem parte do dia a dia dos negócios?
AA: O varejo tem se sobressaído nessa discussão. Temos diferentes varejistas como clientes, alguns deles estiveram na NRF e, mesmo que muitas empresas do segmento ainda falem de omnichannel, temos discussões relacionadas ao metaverso e outras tecnologias. Creio que o grau de maturidade em relação a essas conversas depende da indústria, mas, sem dúvida, o varejo se sobressaí.
F: Diversidade ainda é um ponto crítico para a tecnologia, que também lida com o déficit de profissionais, como mudar esse contexto?
AA: É um grande desafio do nosso mercado. O ecossistema é tão grande que além da formação é necessário olhar diferente e investir para que essa situação mude. Esse é um tema que está no topo da agenda. Conversamos com muitos parceiros locais e globais, e, sobretudo, direcionamos recursos para que iniciativas e programas possam funcionar não de forma isolada, mas para toda a indústria. Temos, em especial o Learning for Employment cuja turma de 2020 para 2021 formou mais mulheres do que homens e estamos em um caminho que, voltando ao que eu falei de sustentabilidade, a empresa inteligente depende diretamente dessa diversidade para ser eficiente.
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