Em sua primeira semana como general manager da Hotmart, startup mineira que virou unicórnio no ano passado, após receber um aporte de R$ 735 milhões, Nathália Cavalieri está à vontade no novo posto, criado para ela. Apesar de ter apenas seis anos na empresa, ela passou por quase todos os níveis, saindo de analista de marketing, em 2016, para , ocupar o posto máximo na liderança da empresa, abaixo apenas do CEO e co-fundador, João Pedro Resende, o JP. “Foi difícil no começo: fui liderar desenvolvedores de software sem nem entender o que é HTML. Eu não entendia de tecnologia, mas entendia de estratégia”, diz ela, que ganhou a confiança em um mercado dominado por homens mostrando que sabia fazer as perguntas certas para resolver problemas das equipes.
A escolha da Hotmart teve a ver com o histórico de vida de Nathália. Em 2009, ela viajou para a Europa pois queria uma experiência internacional no currículo. Passou alguns meses na Itália, mudou para Londres e conseguiu um emprego como recepcionista do hotel Hilton no bairro refinado de Paddington. Aproveitou as férias para fazer um curso de marketing e, com isso, conquistou lugar na área de produção de conteúdo em uma multinacional de apostas online. “Eu amava esportes e acertei quase tudo na prova de conhecimentos, foi o que me diferenciou no processo seletivo”, conta. Depois de três anos fora, Nathália retornou a Belo Horizonte certa de que seria fácil conseguir um novo emprego por conta da jornada anterior. Mas se enganou. “Empresas brasileiras têm dificuldade em aceitar carreiras que não se enquadram na mesma indústria e, como eu atuei em um mercado que não existe por aqui, não foi fácil me recolocar”, diz. Demorou um pouco, mas acabou indo para uma empresa chinesa de brinquedos eletrônicos, onde atuou como gerente de marketing internacional e pode complementar suas experiência com viagens à China e clientes em outros países.
Foi assim, procurando termos como “gerente” + “internacional”, que o algoritmo do LinkedIn mostrou o perfil de Nathália a Mateus Bicalho, co-fundador da Hotmart, que foi convidá-la para tomar um café na sede da empresa, no bairro de São Pedro, também conhecido por São Pedro Valley por abrigar mais de 300 startups. Ela foi, mas não quis saber da proposta para a gerência internacional da empresa, que tem 30 milhões de clientes e escritórios em 8 países. Mas retornou a ligação um ano depois. “Quando achei que meu ciclo havia se encerrado, eu mandei aquele ‘oi, sumido’ corporativo para o Mateus”, diz. Foram, então, para o segundo café e Nathália saiu de lá contratada, porém em uma posição abaixo daquela que ocupava na empresa anterior: analista de marketing, uma pequena queda que abriu espaço para a carreira veloz que traçou. “Eu fui ocupar um cargo que nem estava vago”, conta. É que a estratégia de gestão de pessoas na Hotmart é de contratar os talentos disponíveis no mercado, mesmo que não saiba exatamente onde encaixá-los naquele momento. Faz sentido quando pensamos que a companhia saiu de 120 funcionários em 2016 para 1500 ao final de 2021. Neste ano, serão abertas mais 600 vagas.
Depois de passar pela diretoria de produto e de ocupar a vice-presidência de marketing, Nathália tinha claro para si o tipo de liderança que pretende exercer no cargo novo. E seu papel tem muito a ver com dar espaço para mulheres serem quem quiserem ser – ao menos dentro da Hotmart. “Sou uma feminista e sempre tento mostrar que você pode ser feminista e ser qualquer tipo de mulher. E nesse ponto estou conectada com a visão da empresa, de ter diversidade e deixar as pessoas serem elas mesmas aqui”, diz. No ano passado, foi criada a gerência de diversidade e inclusão, que a executiva vê como estratégica, e a mineira entrou para o grupo interno de afinidade que analisa as questões femininas e ligadas a gênero. “As pessoas tentam nos convencer que as mulheres competem, mas em toda a minha carreira eu vejo as mulheres se ajudando e abrindo espaço para outras mulheres.”
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