Cursando jornalismo e com um filho recém-nascido, a capixaba Adrielly Miguel procurava uma profissão que oferecesse oportunidades com remuneração competitiva. E, após muita pesquisa, achou a resposta para no mercado de tecnologia. “Me atraiu muito porque é um mercado com bastante oportunidades e que paga bem”, diz. E ela não é a única que se interessou pelo setor. De janeiro a maio de 2021 o Banco Nacional de Empregos (BNE) identificou 12.716 candidaturas femininas para vagas de tecnologia, contra 10.375 no mesmo período do ano passado. Outros dados, dessa vez divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apontam que a participação feminina no mercado de tecnologia cresceu 60% nos últimos cincos anos, passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil em 2020, o que reforça as oportunidades que elas podem encontrar no setor.
Apesar dos avanços significativos, ainda existem diversos pontos de desenvolvimento no setor. Segundo a Pesquisa de Remuneração Total, realizada pela consultoria Mercer e obtida com exclusividade pela Forbes, o mercado de tecnologia é o mais desigual entre gêneros no quesito salarial. A consultoria analisou 30 mil empresas no mundo inteiro, dentre as quais 759 no Brasil. De acordo com o levantamento, no nível de executivos de empresas de alta tecnologia a disparidade salarial chega a 36%. As discrepâncias se estendem para os níveis de gerência (7%) e operacionais (9%).
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Além da remuneração, o quesito racial também é uma questão. A pesquisa #QuemCodaBr, realizada pela organização social PretaLab, entrevistou, em 2018, 693 pessoas em 21 estados e descobriu que mulheres negras são 15% das ingressantes em cursos de computação em todo país. Além disso, elas são 32% das alunas de cursos da área de computação.
O movimento de inclusão está fazendo com que grandes empresas comecem a olhar esse público. Um exemplo é a Microsoft, que lançou o Black Women in Tech, um programa de formação voltado às mulheres negras – no qual Adrielly Miguel foi uma participante. Lançado em 2020, o programa atualmente está em sua terceira edição, lançada em setembro de 2021.
Segundo Alessandra Karine, vice-presidente de vendas do setor público e líder de Diversidade & Inclusão da Microsoft, o Black Women in Tech surgiu a partir de pesquisas de mercado, que mostravam que haviam lacunas na inclusão dessas profissionais no setor. “Percebemos que as mulheres não recebem as mesmas oportunidades que os homens, e isso é algo que se acentua muito mais com as mulheres negras. Então nos perguntamos: ‘como a gente muda isso?’”
A formação oferecida pela fabricante de softwares abrange desde o desenvolvimento de soft skills, proficiência em inglês, além de questões técnicas. Não é exigido experiência ou conhecimento em tecnologia, o que permite a transição de carreira de profissionais de outros setores. No final do programa, a Microsoft também ajuda a conectar as formadas com empresas interessadas em contratar. “Nossos parceiros também demonstravam o interesse em recrutar essas pessoas, só que não sabiam como”, diz Karine.
Mercado em transformação
Segundo Silvana Bahia, codiretora do Olabi, organização social com o objetivo de democratizar o acesso à tecnologia, iniciativas do tipo ajudam a diminuir o problema estrutural que é a dificuldade de acesso tanto de mulheres, como de mulheres negras no setor. “Já existe uma falta de profissionais de tecnologia. Se a gente, como empresa, não investirmos no desenvolvimento dessas pessoas, corremos o risco de prejudicar o desenvolvimento de novas tecnologias a médio prazo”, diz Bahia. Uma pesquisa divulgada pela organização social Softex prevê um déficit de 400 mil profissionais de TI em 2022.
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