A alta da carne não para, apesar do preço do boi gordo ter caído nesse meio tempo, principalmente em outubro, e as pessoas estão querendo entender por quê? De onde vem essa pressão positiva? Algumas pessoas até vêm chamando, erroneamente, de inflação da carne. Esse termo é extremamente errado, até porque inflação é uma alta generalizada de preços não concentrada em um produto só.
O que acontece é que a carne é o produto de uma matéria-prima que é o boi gordo. E o boi gordo subiu muito de preço, principalmente a partir do final de 2019, em resposta a alta dos custos de produção. Então, houve um ajuste de preços em decorrência de uma alta passada de custos produtivos que prejudicaram as margens e fizeram com que os produtores investissem menos na atividade. Investindo menos na atividade, a gente diminuiu a capacidade produtiva no segundo momento, a partir de 2019. E aí vimos o boi gordo subir muito e, consequentemente, a carne. A gente tem esse efeito inflacionário generalizado, porém, falando da carne bovina, temos uma resposta dos preços da carne à alta dos preços pecuários, que por sua vez estão respondendo aos custos de produção.
Os custos produtivos da pecuária vêm em um processo de alta até mesmo antes da pandemia. Existe o chamado ciclo pecuário. O ciclo pecuário é o seguinte: em anos de preços em alta, o pecuarista investe na atividade, aumenta a capacidade produtiva; depois, no segundo momento, os preços param de subir. E o contrário também é verdadeiro: quando os preços param de subir e variam abaixo da inflação, ou abaixo dos custos de produção, o pecuarista para de investir e reduz a capacidade produtiva. Isso é cíclico, deve ser respeitado e acontecer para que o pecuarista seja remunerado em um determinado ponto, volte a investir e aumente a disponibilidade do produto. Evitando que ele suba indefinidamente.
O que nós estamos vivendo agora é justamente a fase de alta do ciclo pecuário, a fase em que os preços precisam variar acima dos custos, para que haja investimentos para que, no segundo momento, a carne pare de variar acima da inflação.
Você pode perguntar “mas os preços do boi gordo caíram em outubro, porque o Brasil parou de exportar para a China, o principal mercado, por qual motivo a carne no varejo não acompanhou essa queda?” O principal motivo é que os custos subiram mais do que o boi nesse período todo de 2019 para cá, o boi subiu mais que a carne no atacado e esta subiu mais que a carne no varejo. Ou seja, o varejo acabou ficando defasado. É difícil para o consumidor entender isso, até porque ele está sofrendo com os preços nas gôndolas. É difícil imaginar que a carne pudesse ter ido mais do que já foi, mas, de fato, os custos e o boi gordo subiram acima da carne.
Então, o varejo, nesse produto específico (não falando do mix), perdeu margem nesse produto e agora é a hora dele recompor essa margem. Uma outra questão importante é que agora, em novembro, o boi gordo recuperou essa queda de preços. Mesmo sem a China, os preços voltaram a patamares pré-suspensão. Ou seja, teria sido um esforço desnecessário para o varejo: imprimir uma queda e depois tentar imprimir uma alta no consumidor, que já está combalido pelo desemprego e pelo cenário inflacionário.
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