Se existe uma coisa que estes dois últimos anos nos ensinaram, foi que a saúde mental está em nossas vidas como uma nuvem de pólen. Ela circunda as nossas famílias, o nosso trabalho, o nosso círculo social, o nosso sono. Nunca se falou tanto em saúde mental e nunca se falará tanto quanto nos próximos anos.
Já que a vacinação se dissemina pelo país e a vida dá sinais de voltar ao normal, a pergunta é: como cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho em 2022? Eis, a seguir, algumas dicas importantes:
1. Quem irá ajudar você se algo não vai bem com sua saúde mental? Acredite, é você mesmo. Autocuidado significa, entre outras coisas, estar atento a sentimentos que estão fora do lugar, a atitudes que você tem tomado e que antes não ocorriam, à irritação que não vai embora, ao cansaço pelas noites de sono mal dormidas, à queda de produtividade no trabalho. Esses são alertas de que, de fato, há algo errado com você. Não menospreze esses sinais.
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Ainda que você não saiba explicar o que acontece com você, ao se ver com uma sensação ruim, de que algo está fora de ordem, de que a vida está “xoxa”, saiba que esses também são indicativos de baixa saúde mental. Dê o primeiro passo buscando um médico em quem confia para que ele o ajude. Mas é você quem tem de dar esse passo.
2. Coloque-se limites. Uma das grandes dificuldades no ambiente de trabalho é nos colocar limites. Estabelecer limites começa na entrevista para uma posição. Muitas organizações exigem, por exemplo, que o colaborador viaje ou trabalhe em eventos no fim de semana. Aceitar ou não essas regras é uma decisão sua, que começa antes de você, de fato, começar a trabalhar.
Cada um tem noção de até onde é capaz ou está disposto a ir. Ninguém é igual, assim como ninguém trabalha da mesma forma. A instauração de limites não diz respeito só ao trabalho propriamente dito, mas também a questões emocionais e até físicas. Sente-se ainda com medo de apertar a mão dos colegas? Seja transparente com eles, para não gerar mal-entendidos.
O estabelecimento de limites claros para você mesmo e para a organização para a qual trabalha é fundamental para não se chegar ao que se chama de burnout, uma forma de esgotamento físico e mental que tem crescido assustadoramente no mundo corporativo.
3. Encontre a sua válvula de escape. Ninguém consegue manter-se mentalmente saudável se só acumula demandas, sem se dar a chance de descomprimir. Para algumas pessoas, ver séries é uma ótima válvula de descompressão. Para outras, correr, enquanto outras desabafam na terapia ou conversando com os amigos. Não importa qual escape seja, o importante é você identificar algo que lhe permita desafogar. Atenção: álcool e drogas são descompressores ilusórios, porque dão a falsa sensação de que nos sentimos mais leves. A angústia volta tão logo o efeito deles acaba.
4. Pratique atividade física. A prática de atividade física não só melhora indicadores de saúde, como glicemia e colesterol, mas melhora também a circulação de sangue, inclusive para o cérebro, trazendo aquela sensação gostosa de se sentir energizado e mais alerta, algo importante quando se está trabalhando.
Além disso, reduz os níveis de estresse, fundamental quando se pensa em cuidados com a saúde mental. Menos estressado, você trabalhará melhor e será até mais produtivo, cansando-se menos ao fim do dia.
Por fim, atividade física é um dos melhores reguladores do sono. Desde o início da pandemia, a qualidade do sono dos brasileiros caiu consideravelmente. Exercitar-se melhora a qualidade do sono e reduz o tempo que se leva para pegar no sono.
Como também contribui para o controle de peso, reduz as chances de você apresentar a chamada apneia obstrutiva do sono, condição comum em quem convive com sobrepeso ou obesidade e que leva à interrupção da respiração várias vezes durante a noite, fazendo com que a pessoa acorde e tenha um sono entrecortado.
Pode ser qualquer atividade física, qualquer uma mesmo, mas você deverá gostar daquela que pratica. Caso contrário, será difícil incorporá-la no seu dia a dia.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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