Uma das frases que eu mais gosto de ouvir da minha equipe é “não sei”. Essas duas palavras, evitadas por tanta gente no ambiente corporativo, carregam para mim uma série de significados tranquilizantes. O primeiro deles é que quem me diz isso tem algum nível de autoconhecimento. Não é fácil saber o que não se sabe, identificar conscientemente o que falta aprender.
O segundo ponto positivo é que quem diz isso, em geral, está sendo sincero. Logo, entendo que posso confiar nessa pessoa. Em uma empresa que cresce em alta velocidade, liderada por uma jornalista que está aprendendo empiricamente a ser gestora, ter pessoas que falam a verdade é reconfortante. Meu cérebro interpreta esse sinal como uma liberação para eu focar no que mais precisa da minha atenção, sem tentar fazer microgerenciamento com o resto dos assuntos, pois se houver algo desagradável ou preocupante que eu deva saber, as pessoas não terão medo de me dizer.
Quando eu escrevia sobre carreira, liderança e cultura corporativa para uma revista de negócios, ouvi de diversos executivos que, quanto mais alto o cargo a que chegavam, mais sozinhos e blindados se sentiam. Escutando seus relatos, concluí que este é um dos maiores desafios de um CEO: saber o que acontece, de fato, na sua empresa. O pior é que o isolamento confortável acostuma e, se a pessoa estiver desatenta, fica cada vez mais difícil capturar a sinceridade do ambiente ao redor. Por isso, a cada “não sei” sem rodeios que escuto, celebro a relação de confiança construída e o contato com a realidade da qual faço parte.
O terceiro aspecto tranquilizante de ouvir alguém que trabalha com você dizer que não sabe algo é o indicador de humildade. Canso de ver profissionais de empresas dos mais variados setores e portes respondendo perguntas objetivas com longas frases vazias de significado. “Não seria mais fácil dizer não sei?”, penso. Na prática, porém, parece o contrário. Muito mais difícil assumir que não sabe o que se acredita que devia saber.
Assumir que não sabe, ainda que com uma pontinha de vergonha quando se devia saber algo em sua posição, soa para mim como segurança interna – aquela que, paradoxalmente, nos permite mostrar a vulnerabilidade sem se curvar. Ainda que fosse esperado que alguém em sua posição soubesse, todo mundo falha, e muitas vezes não sabíamos o que deveríamos saber. Pronto, assumido isso, podemos aprender e passar a saber.
O quarto aspecto que valorizo em um declarado “não sei” é a tensão que ele costuma causar em quem o fala e em quem o escuta. Para ser realmente saudável e tranquilizadora, é preciso que a frase não encerre aí a conversa (nesse caso, estaria mais para descaso e desleixo do que para autoconhecimento, sinceridade e humildade). O que eu aprecio é o não saber ativo, que vem carregado de curiosidade e atitude empreendedora: “Não sei, mas vou descobrir e volto já.”
É um sinal para entrar em ação
Quando alguém comprometido e responsável diz em voz alta “não sei” em uma situação em que caberia a si a resposta, é natural partir para a ação – daí a tensão. O clima fica em suspenso, alerta, atento. Como se a alma distraída fosse convocada em caráter de urgência de volta para o corpo para fazer o seu trabalho. Aprender. Desenvolver-se. Evoluir.
Raramente a gente avança em contextos estáveis, sem um chacoalhão (de alguém, da vida, das circunstâncias) de vez em quando. Dizer “não sei” para quem tem autocrítica pode ter um impacto maior do que a cobrança de alguém de fora. E a necessidade de avançar para fechar uma lacuna é sempre um ótimo estimulante para sermos melhores do que fomos até então.
Tem ainda o “não sei” porque a resposta que se pede não existe ou não é relevante. Muitas vezes, em busca de segurança em cenários incertos, gestores tentam extrair garantias impossíveis de se ter. É de se comemorar também quando o time não se deixa levar pela pressão de assumir uma responsabilidade que não é sua, entregando o não saber com tranquilidade – e acompanhado da oferta de outras possíveis informações, reais e importantes para o cenário.
Por fim, no contexto de uma empresa, alguém dizer “não sei” em público é sinal de que a cultura corporativa permite a sinceridade, o erro, a vulnerabilidade. Para mim, esses são indicadores de sucesso. Sinais de uma cultura saudável e vencedora, pois é exatamente nisso tudo que eu acredito e que eu desejo que seja a base das relações humanas que formam o que chamamos de empresa.
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