“O mundo exige a adoção de práticas inovadoras e as agtechs vão nos ajudar nesta empreitada”, diz CEO

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Através de programa de mentoria a startups, a Casale Equipamentos quer incentivar a inovação e novas tecnologias na agropecuária

Inovação é um dos principais desafios para uma agropecuária em busca da produtividade responsável e comprometida com um novo olhar sobre o modo de produção. Nessa corrida, não é segredo que o interior paulista está se tornando um dos principais corredores dessa inovação. Há um movimento fervilhante no que vem sendo chamado, nos últimos anos, de Vale do Silício brasileiro, tendo Piracicaba como seu epicentro, município a 160 quilômetros da capital, mas que se espalhada por vários outros polos onde a inteligência acadêmica encontra um terreno fértil em mentes empreendedoras. É o caso de São Carlos, e com mais um componente: as soluções para a pecuária vêm impulsionando esse movimento.

“O ecossistema de empreendedorismo e inovação está crescendo muito em São Carlos e estamos acompanhando bastante esse processo de inovação das indústrias”, afirma o engenheiro de produção mecânica Mario Casale Neto, CEO da Casale Equipamentos, 37 anos, e segunda geração a assumir o comando da companhia que fabrica vagões misturadores, distribuidores de ração, moedores e forrageiras destinados ao manejo de bovinos. Não por acaso, a empresa de 57 anos anunciou sua adesão ao programa de residência para inovação IAM Founder, criado em maio de 2020 pelo empreendedor local Thiago Christof.

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A ideia é se aproximar de startups em estágio inicial, com a meta de impulsionar 150 projetos nos próximos três anos. Christof foi um dos responsáveis por cunhar o termo “Sanca Hub” para identificar o ambiente inovativo do município. “Em São Carlos, temos uma média de uma empresa de tecnologia ou startup a cada 1.421 habitantes, o que empata com a média de Israel, um dos países mais fortes em empreendedorismo e inovação no mundo”, explica Christof.

A parceria com Casale Neto veio, também, porque são amigos de longa data. A criação da “CasaleTech – Programa de Startups”, tem como objetivo selecionar e oferecer mentorias, pitches e capacitações para novas startups de tecnologias e soluções inovadoras para o setor no qual a empresa atua. “Este programa vem para estimular e intensificar ainda mais esta tendência da região, ventilando o ecossistema de negócios e tecnologia da cidade”, afirma Christof. Um relatório divulgado pela Lesc (Liga de Empreendedorismo de São Carlos), aponta 191 startups no município, de diversos setores além do agro. Esses dados vão ao encontro com o que mostra outro levantamento, o Radar Agtech, um mapeameto das startups do agro brasileiro, desta vez realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com a Homo Ludens e a SP Ventures. São Paulo possui 757 agtechs, o equivalente a 48% de todas as novas startups do agronegócio no Brasil. Além da capital, com 347 agtechs, o trio interiorano é a casa de 168 outras agtechs.

UM NOVO MOMENTO PARA A PECUÁRIA

A pecuária bovina, sob pressão por produtividade, intensificação e metodologias que quantifiquem sua pegada de carbono, é o setor da inovação do agro que mais deve dar saltos nos próximos anos, justamente por ter saído depois da agricultura nessa corrida contra o tempo, como já ocorreu em outros momentos de revoluções nessas cadeias. Não por acaso o setor quer apertar o passo nessa corrida. “Buscamos encontrar formas de inovar mais rápido. Por isso, decidimos criar um programa de startups para fazermos mais coisas de inovação aberta”, afirma Casale Neto. “O mercado é tudo, menos estático. As startups têm uma agilidade maior que nós, empresas tradicionais, para pensar em novas formas de fazer e produzir. É um mindset que pode nos ajudar a ampliar nossa visão de mercado.”

Com previsão para começar no próximo ano, o programa da Casale/IAM Founder iniciou a fase de seleção das startups neste mês, com entrevistas nas quais os selecionados utilizam os espaços de coworking para as “interações qualificadas” entre os participantes. “O mundo exige a adoção de práticas inovadoras — mais eficientes, mais produtivas, mais sustentáveis — e as agtechs que vão se desenvolver no programa podem nos ajudar nesta empreitada”, afirma Casale Neto.

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Soluções para que a pecuária seja mais sustentável está no foco dessas companhias e de uma série de outros atores em São Carlos. O município é sede de quatro instituições de ponta: duas unidades da Embrapa, a Pecuária Sudeste e a Instrumentação, mais a UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), e um campus da USP, a Universidade de São Paulo.

A Embrapa Pecuária Sudeste é uma enorme fazenda — para os padrões paulistas — com 2.538 hectares, dos quais 1.491 hectares são de pastagens cultivadas. Em 1935, o que antes era uma fazenda de café, se tornou uma estação experimental incorporada pela então novata Embrapa, em 1974. Referência em pesquisa, ela prospecta ​​biotecnologia, emissão de gases do efeito estufa (GEE), marcadores moleculares, agricultura de precisão, e nutrição e saúde animal.

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Sede da Embrapa Pecuária Sudeste, uma antiga fazenda de café que hoje é um dos principais polo de inovação do país

Um dos mais recentes trabalhos apresentados foi o experimento de dois anos sobre crédito de carbono obtido com recuperação de pastagem e intensificação, que equivale ao crescimento de 6,27 árvores de eucalipto anualmente, por garrote criado. Foi um dos primeiros experimentos publicados, no caso a prestigiada revista britânica Animal, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, com todas as coletas em condições de campo, que na linguagem acadêmica significam amostras diretas. Entre os oito pesquisadores envolvidos, cinco são da unidade de São Carlos.

A outra unidade, chamada Embrapa Instrumentação, veio mais tarde. Criada em 1984, as pesquisas têm justamente foco na automação de processos, novos materiais, qualidade de produtos e matérias-primas para a agroindústria; claro, sem deixar de lado a agricultura de precisão, meio ambiente e biotecnologia. Suas equipes são formadas por físicos, químicos, farmacêuticos, além de uma profusão de engenheiros elétricos, eletrônicos, mecânicos, de materiais e também agrônomos.

Foi justamente o resultado de uma parceria com a Embrapa Instrumentação, conta o CEO da Casale, que levou a companhia que comanda a apertar o passo. Com a Embrapa, ela desenvolveu um dos produtos mais vendidos pela marca, um misturador de ração. “Depois desse produto de inovação aberta, percebemos que estávamos aproveitando pouco o ecossistema de São Carlos”, afirma Casale Neto. Atualmente, a empresa já trabalha com diferentes projetos de inovação aberta, incluindo o desenvolvimento de um equipamento para mecanizar a colheita da palma forrageira, dessa vez com a USP e a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), hub que apoia 1.378 projetos e envolve 956 empresas. Até outubro, os projetos de pesquisa e desenvolvimento, em andamento, somavam R$ 1,8 bilhão.

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Pecuária cada vez mais intensiva demanda tecnologias para continuar mostrando que pode ser sustentável

Alexandre Berndt, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, que também tem parcerias com o Onovolab, campus criado em São Carlos voltado à inovação conjunta em ambientes corporativos, de startups e acadêmico, diz que a demanda está acima da capacidade instalada. Daí, o ambiente fervilhante das agtechs. “Para a agropecuária, podemos destacar São Carlos por uma característica peculiar nossa, que é a presença forte das engenharias da física, matemática e química, e também nossa presença como fazenda de pecuária digital, onde testamos nossas tecnologias em um espaço muito grande”, conta. “Somamos diferentes disciplinas complementares para atingirmos esse objetivo de uma produção intensiva sustentável.”

Mas ele ressalta que “infelizmente, não há espaço para todas as ideias”, pois a grande quantidade de agtechs surgidas no Brasil, nos últimos três anos, dificulta que todas possam “prosperar da mesma forma”. A pesquisa “Radar Agtech Brasil 2020/2021” aponta que cerca de 630 agtechs foram fundadas desde 2019, algo em torno de 40% de todas as startups do agro existentes no Brasil. Com esse desafio, a criação de um programa como o “CasaleTech” pode ajudar algumas dessas agtechs a se destacarem e conseguirem garantir o seu futuro no meio da competitividade citada por Berndt.

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