Conheça a história dos Irmãos Domuschiev, os primeiros bilionários da Bulgária

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Kiril e Georgi Domuschiev foram criados na Bulgária da era comunista e começaram vendendo sapatos

No ano passado, milhões de pessoas em home office impulsionaram uma disparada na adoção de animais de estimação, o que aumentou as vendas e os lucros de empresas que oferecem rações e brinquedos. A pandemia também renovou o foco no potencial de doenças transmitidas por animais, assim como na resistência a antibióticos, aquecendo o setor de saúde pecuária global atualmente avaliado em US$ 20 bilhões.

“Agora que estamos mais familiarizados com as doenças zoonóticas, há uma tendência de longo prazo para maior produção de vacinas [para animais]”, diz o analista do Citigroup, Navann Ty.

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Um dos beneficiados foi a Huvepharma, sediada em Sofia, na Bulgária, a sexta maior empresa de saúde pecuária do mundo. Suas operações vão desde uma fábrica de vacinas em Lincoln, no estados norte-americano de Nebraska, até uma fábrica de produtos farmacêuticos no noroeste da Itália.

Grande produtora de medicamentos veterinários e vacinas, bem como aditivos para ração animal, a Huvepharma registrou US$ 658 milhões em receitas em 2020, um aumento de 21% desde 2018. Isso ajudou seus proprietários, os irmãos Kiril e Georgi Domuschiev, a se tornarem os primeiros bilionários da Bulgária. Kiril também foi nomeado cidadão honorário de Nebraska em 2019 pelos investimentos da Huvepharma no estado.

Em um prédio comercial de aparência genérica na capital búlgara, Sofia, os irmãos Domuschiev construíram seu império multibilionário privatizando e expandindo empresas estatais. Começando com a queda do comunismo na década de 1990 e com o impulso da entrada da Bulgária na União Europeia, em 2000, os dois irmãos transformaram uma série de investimentos nessas empresas privatizadas, incluindo a Huvepharma, em uma fortuna estimada de US$ 4,2 bilhões que inclui empreendimentos no mercado imobiliário e no futebol.

Para Kiril Domuschiev, 52, assumir ativos estatais de baixo desempenho é sempre uma aposta mais segura do que investir em ações. “Não somos pessoas que guardamos dinheiro no banco ou compramos ações na Bolsa de Valores. Para mim, [isso é] apostar”, disse ele durante uma entrevista online de seu escritório em Sofia, vestindo uma camisa social branca. “Preferimos investir em nossos projetos, onde podemos controlar as coisas.”

A Forbes estima que Kiril e seu irmão mais novo, Georgi, 49, tenham cada um uma fortuna de US$ 2,1 bilhões, composta de participações iguais no conglomerado Advance Properties, e capital vindo de vendas anteriores e dividendos.

O segundo maior ativo da Advance depois da Huvepharma, que representa 77% da fortuna dos irmãos, é uma participação de 70% na empresa de transporte marítimo de carga Navibulgar. Esse negócio também se beneficiou de disrupções causadas pela pandemia. Os preços de commodities como aço e carvão subiram à medida que os gargalos de transporte se acumulavam ao redor do globo, aumentando as receitas das empresas que transportam commodities em larga escala.

As vendas da Navibulgar devem crescer 78% este ano, para US$ 281 milhões. “As taxas subiram para níveis recordes dos últimos 12 anos. O setor está com desempenho muito bom neste momento”, disse Randy Giveans, analista de transporte da Jefferies.

Pouco conhecidos fora da Bulgária, os irmãos Domuschiev são famosos em seu país de 6,9 ​​milhões de habitantes: são donos do time de futebol de maior sucesso, o Ludogorets Razgrad. A Advance Properties também detém uma concessão de 44 anos para operar o porto de Burgas no Mar Negro e 250 mil metros quadrados de imóveis espalhados pelo país. Eles também controlavam a maior rede de mídia, a Nova TV, antes de vendê-la em janeiro por US$ 340 milhões.

Cheios de dinheiro com a venda da Nova e buscando tirar proveito da recente enxurrada de IPOs, os irmãos planejavam abrir o capital da Huvepharma na bolsa de valores de Amsterdã em junho, na esperança de levantar US$ 340 milhões com uma avaliação de pelo menos US$ 4 bilhões. No último minuto, eles desistiram e optaram por manter a empresa privada. “O desconto para garantir um IPO bem-sucedido era muito alto para justificar a abertura de capital”, diz Kiril.

Os irmãos dizem que não precisam dos mercados públicos, pelo menos por enquanto. “Francamente, nossa filosofia sempre foi reinvestir nossos lucros”, diz Kiril.

Nascidos na Sofia da era comunista, na virada da década de 1970, os irmãos Domuschiev frequentaram escolas de línguas estrangeiras – Kiril aprendeu espanhol e Georgi estudou francês – enquanto seus pais trabalhavam em empregos de classe média alta. O pai foi diretor do departamento de eletricidade de Sofia e a mãe foi diretora financeira de uma empresa de energia.

Em 1990, Kiril Domuschiev era um estudante universitário de 21 anos na Universidade Técnica de Sofia, recém-saído do serviço militar obrigatório, quando o regime comunista da Bulgária entrou em colapso e o país iniciou uma transição caótica para uma economia de mercado. Ele recrutou seu irmão e juntos começaram a vender roupas e sapatos fabricados localmente.

Ele levaria 12 anos para se formar e obter seus diplomas, um bacharelado em administração industrial e um mestrado em marketing, enquanto dirigia a empresa. “Decidi terminar os estudos porque era importante para meus pais”, diz ele com uma risada.

Em 1996, a empresa havia crescido e tinha dois mil trabalhadores em fábricas na Itália e na Bulgária. Não era um bom momento para empreender. A Bulgária havia acabado de mergulhar em uma crise bancária e cambial que levou à hiperinflação, que chegou a quase 600% em 1997. “Perdemos grande parte de nosso capital naquele ano”, lembra Kiril. “Não havia bancos para nos financiar. Éramos jovens e era difícil. Na época, havia muitas casas de câmbio que tinham recursos, pegamos dinheiro emprestado a taxas de juros mensais de 10% a 15%.”

Naquele mesmo ano, o governo búlgaro começou a leiloar ativos estatais e os irmãos Domuschiev viram uma oportunidade de ouro. Então, eles decidiram vender o negócio de calçados, juntar seu capital com o de outros investidores não identificados e formar um fundo de investimento chamado Napredak, que adquiriu cerca de 15 empresas recém-privatizadas, incluindo a fabricante de empilhadeiras Balkan.

Embora eles não possuíssem mais de 35% de nenhuma das empresas de propriedade da Napredak, os irmãos ainda mantiveram o negócio na família: eles colocaram sua mãe, Margarita, no comando da Balkan. Ela ainda está na empresa hoje, aos 76 anos.

“Com os outros fundadores da [Napredak], encontramos uma oportunidade de aplicar nossa experiência de negócios privados a fábricas estatais, que eram muito mal administradas”, diz Domuschiev, acrescentando que acredita que essa má-gestão pode ser vista ainda hoje.

A identidade dos outros fundadores da Napredak não é clara, mas os irmãos começaram a investir sem eles em 2000, quando fundaram a Advance Properties. Foi também nesse ano que eles compraram 54% da empresa de saúde animal Biovet, na qual o Estado búlgaro tinha uma participação, por US$ 10,6 milhões. À época, a companhia tinha cerca de US$ 20 milhões em receitas anuais.

Eles compraram novas fábricas, trocaram o nome da empresa para Huvepharma em 2005 e, posteriormente, adquiriram os 46% restantes por cerca de US$ 9 milhões. A Huvepharma tem hoje 11 fábricas em quatro países, incluindo cinco nos Estados Unidos, em Arkansas, Colorado, Missouri, Nebraska e Carolina do Norte.

Os irmãos também diversificaram apostando na indústria naval, outro setor anteriormente dominado pelo Estado. Em 2008, eles compraram 21% da empresa de navegação estatal Navibulgar, fundada em 1892, por US$ 104 milhões. A aquisição foi feita junto com um consórcio alemão que comprou uma participação de 70% por quase US$ 350 milhões.

O momento do investimento na Navibulgar, que foi feito logo depois de a crise financeira global estourar, não foi ideal. “Um mês depois de comprarmos [a companhia], a indústria naval entrou em colapso”, diz Kiril. Os irmãos mais tarde compraram as participações de seus sócios por uma quantia não revelada. Eles também investiram milhões de dólares em novos navios que poderiam navegar ao redor do globo, incluindo os canais de Suez e do Panamá.

Em 2012 e 2013, os irmãos investiram no transporte marítimo novamente, desta vez em um arrendamento de longo prazo de dois terminais no porto búlgaro de Burgas, na costa do Mar Negro. Eles destinaram US$ 170 milhões a obras de modernização e, em 2019, prorrogaram o contrato para até 2065. Hoje, eles esperam que a Navibulgar contribua com 30% a 35% da receita total da Advance Properties de 2021. “Depois de muitos anos ruins, o negócio está crescendo muito”, diz Kiril.

O investimento dos irmãos no futebol remonta a 2010, quando eles pagaram US$ 60 mil pelo Ludogorets Razgrad, um time que definhava na divisão mais baixa da liga e vinha de uma cidade onde havia uma grande fábrica da Huvepharma.

Os dois dobraram a aposta e construíram um novo estádio para o clube no ano seguinte. A ex-equipe amadora ganhou duas promoções consecutivas e chegou à primeira divisão do país em 2011. O Ludogorets Razgrad foi o vencedor do campeonato nacional dos últimos dez anos.

O time também deu a Kiril Domuschiev uma de suas posses mais peculiares: uma águia careca chamada Fortuna, em homenagem à deusa romana da fortuna. Em 2014, o Ludogorets enfrentou a equipe italiana Lazio na fase inicial da UEFA. Ambos os lados têm uma águia como símbolo, e a Lazio mostrar sua águia, a Olympia, antes dos jogos em seu estádio em Roma. O dono da Lazio, Claudio Lotito, estava tão certo do sucesso que apostou com Kiril que lhe daria uma águia de presente se o Ludogorets ganhasse – e eles ganharam. “Depois que eliminamos a Lazio, ganhei um presente do Lotito”, diz ele. “Agora nossa águia é da Lazio.”

Como donos do time de futebol de maior sucesso da Bulgária e, brevemente, de sua maior rede de TV, os irmãos Domuschiev têm dificuldade em ficar fora dos holofotes em um país que ainda luta contra a corrupção. Kiril Domuschiev lidera a Câmara de Comércio do país, a Confederação de Empregadores e Industriais, e também dirige uma fundação com sua esposa voltada para educação e saúde.

Em março de 2020, ele supostamente violou as regras de pandemia da Bulgária quando testou positivo para Covid-19 e deu entrada em um hospital privado que não foi designado como um centro de tratamento para o vírus. Em uma postagem no Facebook, ele disse que se isolou e seguiu todas as medidas de quarentena.

Já a rede de mídia Nova Group foi de longe o investimento mais polêmico. Eles compraram a empresa por quase US$ 210 milhões em 2019, colocando cerca de 35% em dinheiro e financiando o restante por meio de financiamento bancário. A venda foi aprovada pelo regulador antitruste da Bulgária, apesar de sua rejeição anterior de uma oferta pelo grupo PPF do bilionário tcheco Petr Kellner (falecido em março de 2021), sob o argumento de que teria dado à Nova os fundos para aumentar sua participação no mercado e limitar a concorrência.

Isso gerou acusações de que os irmãos tinham laços estreitos com o primeiro-ministro da Bulgária, Boyko Borisov, que na época foi assediado por protestos em massa que o levaram à renúncia em 2021.

De acordo com um relatório de julho de 2021 sobre liberdade de mídia pelo Centro para Pluralismo de Mídia e Liberdade de Mídia da União Europeia, os irmãos Domuschiev demitiram mais de 60 jornalistas e funcionários do canal de notícias Nova, supostamente devido a cortes no orçamento. Os profissionais foram substituídos por repórteres mais amigáveis ​​ao governo do Kanal 3, um canal de notícias que eles adquiriram em outubro de 2020 por uma quantia não revelada do oligarca pró-governo e ex-membro do Parlamento Delyan Peevski. Em junho, Peevski foi alvo de sanções do Departamento de Estado dos EUA por “envolvimento em corrupção”.

“Alguns produtores e apresentadores estavam renunciando por conta própria, decepcionados com a mudança de cenário. Alguns jornalistas investigativos e mais críticos foram demitidos”, disse Orlin Spassov, professor de mídia da Universidade de Sofia e um dos autores do relatório.

Acrescenta seu coautor e colega, o professor de direito Nelly Ognyanova: “Os negócios dos irmãos Domuschiev prosperaram durante o reinado [de Borisov]. Nova negou todas as formas de censura… mas algumas vozes críticas foram disparadas, e Nova adquiriu a mídia [pró-governo].”

Um porta-voz de Kiril Domuschiev negou as acusações em um comunicado à Forbes: “Estas são calúnias de empresários locais que estão por trás da mídia concorrente na Bulgária e espalhadas pela mesma mídia”.

Em janeiro de 2021, os irmãos venderam a Nova para o United Group, com sede na Holanda, por US$ 340 milhões. Kiril admite que a venda se deveu em parte à tensão política. “Comecei a receber reclamações de todas as partes porque todos pensavam que a Nova estava ajudando alguém. Gostamos muito do negócio, tínhamos nos tornado o número um em notícias, mas isso criou questões realmente sensíveis do ponto de vista político e decidimos vender.”

Em um acordo típico, os irmãos Domuschiev investem entre 30% a 50% do capital diretamente e financiam o restante por meio de empréstimos bancários, contando com relações com credores internacionais, incluindo Citibank, BNP Paribas e Banco de Exportação e Importação da China, bem como instituições locais, como o Banco de Desenvolvimento da Bulgária, dirigido pelo estado.

Quando eles vendem um ativo, eles não precisam abrir uma holding em um paraíso fiscal distante para colher os frutos: a Bulgária tributa ganhos de capital em 10%, e dividendos em apenas 5%, em comparação com os 23,8% no topo a taxa de ganhos de capital nos EUA e a taxa média de 19,3% na União Europeia. A Forbes estima que os irmãos embolsaram pelo menos US$ 110 milhões (após impostos) em dividendos e receitas de vendas de ativos desde 2018.

É claro que as fronteiras da Bulgária se tornaram muito pequenas para as ambições dos irmãos Domuschiev. Os navios Navibulgar navegam pelos oceanos da Indonésia a Israel. Huvepharma fabrica rações e medicamentos em St. Louis, Missouri e Saint-Étienne, França. E Kiril estima que a Advance Properties está a caminho de obter receitas equivalentes a 2% do produto interno bruto da Bulgária – que foi de US$ 68 bilhões no ano passado – em 2021, um novo recorde.

“Estamos muito confiantes no que estamos fazendo”, diz ele. “Tudo o que tocamos desde 2000 está crescendo muito rápido.”

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