O mundo corporativo tem evoluído bastante por conta da tecnologia, inclusive no recrutamento com ferramentas tecnológicas munidas de inteligência artificial que agregam cada vez mais agilidade e assertividade aos processos. Mas não dá para negar que o fator humano ainda faz toda a diferença quando o assunto é fazer o match perfeito entre profissional e oportunidade disponível no mercado.
É por essa razão que eu acredito ser tão importante que os profissionais se mantenham atentos aos movimentos do mercado e às necessidades das empresas, enquanto as organizações não podem perder de vista os desejos e as expectativas daqueles que já estão em seu quadro e daqueles que desejam atrair. E, para ampliar um pouco mais essa extensa reflexão, destaco a seguir alguns mitos e verdades sobre o processo de recrutamento:
1) “Há muitos candidatos no mercado devido às demissões em massa por conta da pandemia.”
Verdade. Afinal, não dá para negar que há um grande número de profissionais desempregados no país. Porém, historicamente, esse número reduz de maneira significativa quando fazemos um recorte dos profissionais qualificados, como demonstra trimestralmente o Índice de Confiança Robert Half. Somado a isso, existe o fato de que 66% dos recrutadores entrevistados para a composição da 16ª edição da pesquisa afirmam que, hoje, está difícil ou muito difícil encontrar profissionais qualificados, tendo como uma das principais razões para esse desafio o fato de que os melhores estão empregados.
2) “Os candidatos estão dispostos a esperar pela decisão da empresa durante um processo seletivo.”
Mito. Hoje, mais do que nunca, as organizações devem se preocupar em aplicar processos seletivos ágeis, com comunicação eficiente ao longo de todas as etapas e otimização de tempo de todos os envolvidos. Essa dinâmica é necessária para que a companhia não corra o risco de perder um talento para a concorrência. No entanto, esse anseio por agilidade não pode comprometer a qualidade da ação. Nesse contexto, vale destacar que 47% dos candidatos perdem o interesse em uma oportunidade se não houver atualização de status entre uma a duas semanas após a primeira entrevista. É também por essa razão que no caso de posições estratégicas, de falta de equipe no RH interno ou da necessidade de contratar um perfil muito específico, vale à pena contar com o apoio de uma consultoria especializada. Aos olhos dos profissionais, a dinâmica do processo seletivo diz muito sobre a cultura da empresa.
3) “Um profissional que trabalha por projetos pode ser mal visto por futuros empregadores.”
Mito. Quem costuma gerar desconfiança com relação ao nível de comprometimento é o profissional “pula-pula”, ou seja, aquele que tem um histórico de ficar menos de dois anos em cada companhia por onde passa. Isso porque é muito pouco provável que nesse período alguém consiga concluir um ciclo de aprendizagem e de resultados. O profissional de projetos, por sua vez, é contratado para uma ação com data de início e término, com acordo de entrega de resultados. Ou seja, desde que essas informações estejam evidenciadas no currículo, o profissional não terá nenhum problema em se movimentar no mercado. Pelo contrário, 84% dos profissionais entrevistados para o 16º ICRH acreditam que a experiência de trabalhar em projetos especializados foi positiva para o currículo.
4) “Home office deixou de ser benefício.”
Verdade. Os dados do Guia Salarial 2022 mostram que 76% dos profissionais entrevistados veem o trabalho remoto como uma forma de trabalhar e não mais como um benefício. É possível concluir, ainda, que esse modelo de trabalho que se consolidou na pandemia pode ser tratado também como uma ferramenta de atração e retenção de profissionais, tendo em vista que 38% dos entrevistados afirmam que procurariam um novo emprego se a empresa não oferecesse uma opção, ao menos, parcialmente remota e 63% ainda gostariam de trabalhar mais vezes em casa do que no escritório.
5) “Como empregador, devo procurar um candidato com o maior número de habilidades possível.”
Mito. Cada posição dentro de uma companhia exige habilidades técnicas e comportamentais específicas. Isso explica a importância de dedicar tempo à definição do perfil do candidato que se procura. Digo isso porque um dos piores erros de uma empresa no processo de recrutamento é contratar o Batman para executar a função do Robin, um risco para que, em pouco tempo, o profissional muito capacitado sinta que está com as suas habilidades subutilizadas. Minha experiência diz que, em média, uma empresa costuma encontrar alguém com, no máximo, três das habilidades exigidas. Esse número pode subir para cinco, se ela tiver muita sorte.
Em cada contratação, a empresa tem a oportunidade de subir um degrau com relação à sua imagem e aos seus resultados. Do ponto de vista do profissional, cada passo na carreira é o que tende a determinar uma trajetória de sucesso, considerando, claro, os objetivos de cada pessoa.
É essa dinâmica que eleva o processo de recrutamento e seleção ao patamar de uma ação estratégica, seja para os resultados dos negócios ou para a carreira do profissional. Vai muito além da simples ação de preencher uma cadeira vaga ou se movimentar entre empresas.
Aqui neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half.
*por Fernando Mantovani, diretor geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar