Como três tecnologias escaláveis ​​podem combater a insegurança alimentar

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Fernando Frazão/Agência Brasil

Como alimentar a população global é um dos maiores desafios da humanidade

Com a expectativa de que a população global ultrapasse 9 bilhões até 2050, cientistas, inovadores e empreendedores estão buscando soluções científicas ágeis ​​para estabelecer um suprimento de alimentos resiliente e sustentável nos próximos anos.

John Ruff, diretor de ciência e tecnologia do IFT (Institute of Food Technologists), dedicou sua carreira ao crescente problema da insegurança alimentar global e avaliou o papel que as soluções científicas escaláveis ​​podem desempenhar no enfrentamento desse problema.

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“Embora muitas vezes uma luz negativa seja lançada sobre o processamento de alimentos e os organismos geneticamente modificados, por exemplo, os alimentos não são simplesmente bons ou ruins”, diz ele. “O processamento de alimentos e o uso de tecnologias ajudam a aumentar a segurança alimentar, aumentar o conteúdo nutricional dos alimentos, aumentar a vida útil, aumentar a produção agrícola e garantir safras mais viáveis ​​em todo o mundo.”

Aqui estão as três principais tecnologias escalonáveis ​​para combater a insegurança alimentar, de acordo com Ruff.

1 – Upcycling (reutilização)

De acordo com o Food Waste Index Report, produzido pelo UNEP/2021 (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o desperdício de alimentos em residências, estabelecimentos varejistas e na indústria de serviços alimentícios totaliza 931 milhões de toneladas, ou uma média de 74 quilos per capita a cada ano. Mais da metade desse desperdício ocorre no consumo familiar, mais 26% vêm dos serviços de alimentação e 13% do varejo, o que significa que existem medidas de produção que podem ser implementadas para mitigar significativamente as perdas de alimentos. Uma das medidas de maior impacto para reduzir o desperdício de alimentos é a reutilização (upcycling), ou o ato de adquirir e processar ingredientes que, de outra forma, não seriam consumidos.

“A redução do desperdício de alimentos em toda a cadeia de abastecimento aumentará significativamente nossa necessidade de mais cultivos, mitigando os efeitos prejudiciais do desperdício de alimentos”, diz Ruff. “Há um potencial muito real para reduzir o desperdício nos países em desenvolvimento em nível agrícola, utilizando tecnologias existentes para criar produtos de valor agregado, o que pode aumentar a renda dos pequenos proprietários e reduzir a pobreza. Vimos exemplos de como alavancar a reciclagem para criar produtos alimentícios de valor agregado nos EUA, como o uso de grãos da fermentação, subproduto que antes era descartado, para fazer barras de proteína e farinha.”

Proteína celular e vegetal

Em 2012, a FAO (Organização para Alimentação e Agricultura) projetou que a demanda global por carne alcançaria 455 milhões de toneladas em 2050, um aumento de 76% em relação a 2005. Isso é altamente problemático, dado que a pecuária industrial [o autor fala do confinamento intensivo. No Brasil, 95% dos bovinos são criados no pasto], inflige externalidades negativas à saúde pública, bem-estar e meio ambiente, resultando em emissões de gases de efeito estufa, uso insustentável da terra e perda de biodiversidade, e uso não sustentável da água.

Alternativas à base de plantas para a proteína da carne e o crescimento da carne à base de células em laboratórios fornecem uma oportunidade para superar essas externalidades negativas. Uma estimativa da consultoria Kearney sugere que 35% de toda a carne consumida globalmente será cultivada até 2040, enquanto o mercado de proteínas alternativas deve ultrapassar US$ 9 bilhões em 2026.

“Os recentes investimentos científicos em proteína celular e vegetal são essenciais para atender à crescente demanda global por proteína e prevenir os impactos ambientais dos gases de efeito estufa associados ao aumento na produção de carne”, disse Ruff. “Alternativas à base de plantas não são novas, mas os avanços na palatabilidade estão levando à experimentação e ao consumo; mais pesquisas são direcionadas à melhoria da qualidade nutricional. Embora em um estágio inicial de comercialização, a proteína celular está começando a entrar no mercado e o trabalho está em andamento para otimizar a qualidade e reduzir os requisitos de energia. ”

Se alguma evidência é necessária para provar que a proteína celular está decolando, a startup de carnes “cultivadas em laboratório”, com sede em Israel, Future Meat Technologies, abriu recentemente uma instalação piloto para produzir 5.000 hambúrgueres por dia, e a Nestlé está supostamente em negociações com a empresa para adicionar sua carne ao portfólio de produtos da empresa. O CEO da Impossible Foods, Pat Brown, também disse, recentemente, que deseja acabar com a criação de animais até 2035.

Digitalização da cadeia de abastecimento
A pandemia aumentou mais a conscientização sobre a produção de alimentos do que nunca, expondo ineficiências que afetaram a indústria por décadas, resultando em desigualdades estruturais e exacerbando a insegurança alimentar global. O advento da digitalização de inteligência artificial (IA) e big data em toda a rede de abastecimento de alimentos oferece oportunidades para transformar toda essa cadeia, com potencial para superar problemas logísticos, melhorar o frescor, a segurança e a segurança alimentar, e elevar a experiência geral do cliente.

“O uso de Inteligência Artificial para analisar e interpretar dados e sensores de IoT (Internet das Coisas) estão melhorando a segurança e a consistência nutricional dos produtos alimentícios e também reduzindo o desperdício”, explica Ruff. “A internet de banda larga pode capturar dados de nível de produção e transporte para fortalecer a eficiência e resiliência da cadeia de abastecimento de alimentos.”

Chegou a hora de transformar a forma como cultivamos, produzimos, distribuímos e consumimos alimentos e, com o rápido crescimento da população global, aumento da demanda dos consumidores, aumento dos preços dos alimentos e com o impacto que a agricultura industrial está tendo sobre o meio ambiente, a verdadeira transformação não será provável sem tecnologias que possam impulsionar melhorias em escala, qualidade, resiliência e acessibilidade aos alimentos.

*Daphne Ewing-Chow é colaboradora da Forbes EUA, escritora ambiental com foco em alimentos e agricultura. É mestre em política econômica internacional pela Universidade de Columbia. Também escreve para o Sunday Times (de Londres), The New York Times e o Fundo Monetário Internacional (Revista Finance & Development).

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