Na segunda (25), logo de manhãzinha, uma mestre de cerimônias abre o CNMA (Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio), evento que começou com a pretensão de reunir 300 mulheres do setor, em formato presencial, e que na edição do ano passado chegou a cerca de 2.000 em formato virtual, por conta da pandemia. Programado para terminar no dia 27, será a sexta edição de um projeto vitorioso pelo rastro que vem fazendo.
O movimento feminino do agro, que já vinha se desenhando timidamente nos anos anteriores a 2016, ganhou velocidade com a criação do congresso. São inúmeros os grupos de mulheres que nasceram inspirados no CNMA, espalhados por todo o país. O evento, claro, é uma construção coletiva, mas um nome está ligado a ele desde a sua concepção e tem funcionado como uma espécie de maestrina: Renata Camargo, executiva do Transamérica Expo e que atualmente responde por novos negócios. “Um dos pilares para o êxito do congresso é que a mulher acaba se diferenciando porque compartilha o sucesso com outras mulheres. Tem essa postura de pegar na mão e falar ‘vem que eu vou te ensinar’”, diz Renata.
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Não há um único episódio na construção da identidade do CNMA do qual ela não esteja a par ou não esteja envolvida diretamente. Renata, uma figura executiva urbana, formada em hotelaria e pós-graduada em propaganda e marketing, transformou-se em uma mulher identificada com o setor do agronegócio. Não por acaso, é um dos destaques da Lista Forbes das 100 Mulheres Poderosas do Agro, publicada na semana passada.
O caminho, até aqui, precisou ser construído com aprendizados e eles vieram de diversas maneiras. Hoje, há passagens cômicas que fazem parte de suas anedotas, mas que no final renderam frutos. “Fui de salto na minha primeira vez à Agrishow”, conta Renata, dona de uma coleção que faz parte de seu figurino executivo. A Agrishow, que acontece em Ribeirão Preto (SP), é a maior feira de tecnologias para o campo, montada em uma área de 520 mil metros quadrados – 52 campos de futebol –, onde se instalam cerca de 800 empresas que recebem um público acima de 150 mil pessoas. Resumindo: o jogo que Renata se dispôs a entrar estava em outra arena. “Pensei ‘gente, acho que eu preciso de uma bota’. Entendi que precisava mudar meu figurino para me encaixar e buscar uma maneira de marcar o congresso na cabeça das pessoas.” Daí em diante, nesse tipo de evento, Renata está sempre de botas e de uma vistosa camiseta com o logotipo do CNMA. Ela conta que a identidade visual do congresso acabou atraindo pessoas para proveitosas conversas e abriu mais portas.
Mas é na retaguarda que ela vem marcando um bolão. A ideia do congresso nasceu no núcleo de eventos do Transamérica, parte do Conglomerado Alfa, um gigante que atua nos segmentos financeiro, agronegócios, alimentos, materiais de construção, comunicação e cultura. Logo de cara, Renata conseguiu atrair para o projeto a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), entidade que reúne 73 membros, entre empresas e instituições, como Cosan, Cargill, Basf, Tereos, Corteva, Elanco, JBS, Santanter, Rabobank e Banco do Brasil. Mais José Luiz Tejon Megido, sócio-diretor da consultoria Biomarketing, doutor em ciências da educação e um dos pensadores mais respeitados no agro, e também a CNA (Confederação Nacional de Agricultura), entidade que representa 5 milhões de produtores rurais brasileiros.
No entanto, para ela ainda não bastava as parcerias destinadas a colocar a estrutura de pé. Foi aí que começou outro capítulo do que o congresso se tornou: um lugar ocupado por mulheres protagonistas em seus negócios e afazeres em todas as cadeias do agro, do antes ao depois da porteira. “Já tínhamos grandes parceiros e um especialista no assunto, mas o público que a gente queria trazer eram as mulheres. Onde elas estavam e quem eram elas?”, afirma. Então, Renata conheceu Teka Vendramini, à época presidente do NFA (Núcleo Feminino do Agronegócio), o mais antigo grupo de mulheres ainda em atividade, são 10 anos, fechado para cerca de 30 produtoras que são gestoras de suas propriedades. “Marcamos um almoço, ela achou fantástica essa ideia de um congresso e falou que me ajudaria a ‘trazer essa mulherada’ para o evento.”
O resto, a história deu conta de fazer acontecer, entre inúmeras viagens também às fazendas. Para Renata, era importante vivenciar o agronegócio e “entender as dores” das mulheres que participam de um ambiente que vem passando por grandes transformações, mas que ainda é predominantemente masculino. “O agronegócio, como todo mundo já sabe, é um ambiente muito mais masculino, mas acho que a criação do congresso conseguiu dar voz e força a essas mulheres”, afirma. “O CNMA era o que faltava para elas sentirem coragem de falar ‘eu vou batalhar e vou à luta’, sentimento reforçado por estar em um evento com outras mulheres que pensam semelhante.”
De acordo com o mais recente censo agropecuária, realizado pelo IBGE em 2017, as mulheres são responsáveis por 19% dos estabelecimentos rurais, parcela que representa cerca de 946 mil produtoras. Para o evento que começa na segunda, a expectativa é receber 2.500 pessoas ainda em formato virtual fechado. Isso porque o congresso, embora seja para mulheres, tem atraído cada vez mais os homens. “Todos são bem-vindos, porque a gente acredita que essa complementaridade de gêneros é o que faz a diferença”, diz ela.
Outra mudança a caminho, que deve se concretizar no próximo ano, ao retomar o formato presencial, é transformar o congresso em um evento internacional. A ideia começou a nascer no ano passado, com participações de mulheres norte-americanas e europeias nas mesas de debates, como a ministra da Agricultura de Portugal, Maria do Céu Antunes, e a diretora de commodities da bolsa de valores de Chicago, Susan Sutherland, entre outras.
Para este este ano, estarão nas mesas figuras como a norte-americana Julie Winkler, diretora comercial do CME Group, e a inglesa Melanie Hopkins, ministra conselheira da embaixada do Reino Unido no Brasil. A meta, agora, é trazer mulheres de outros países para a plateia, como ocorreu com as diversas caravanas que se organizaram nos últimos anos, partindo de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Paraná e de vários outros locais do país. “A gente quer se unir também com as mulheres de fora do país”, diz Renata. “A troca de referências e tecnologias é muito importante para potencializar o futuro do agronegócio com a presença feminina.”
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